A autobiografia da professora e jornalista traz histórias das políticas dos carnavais nas décadas de 80 e 90, os saudosos carnavais da Unidos do Cabuçu e causos” das escolas de samba
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No próximo dia 13 de agosto acontecerá no restaurante La Fiorentina, no bairro do Leme, o lançamento do livro “Alma de Cabrocha – Uma autobiografia cheia de samba” da professora e jornalista, Therezinha Monte. O evento que será acompanhado de uma sessão de autógrafos ocorrerá no espaço interno do restaurante, e está agendado para início às 19hs.
A ideia de escrever o livro partiu inicialmente de um apelo feito por amigos e admiradores que viam nas histórias e “causos” de Therezinha Monte, como presidente de uma escola de samba, uma excelente oportunidade eternizar suas memórias carnavalescas compartilhando com o leitor sua vida e arte a partir do que hoje chamamos de empodeiramento feminino, termo desconhecido na década de 80 quando Therezinha enfrentou muitas objeções e despontou em um meio dominado predominantemente por homens. Foi a partir desta ideia que as amigas argentinas Alejandra M. Farran e Silvia Viviana Nievas “apaixonadas por samba e pelo Brasil” convenceram Therezinha a transformar sua vida em livro, e iniciaram uma intensa pesquisa em documentos e recortes sobre o carnaval do Rio de Janeiro, mas talvez devido à distância entre os dois países o projeto não foi adiante. Coube então a Tania Carvalho, uma amiga de antigos carnavais, a missão de ajudar Therezinha a dar os primeiros passos para o desenvolvimento deste projeto.
A relação de amizade entre Tânia e Therezinha vem de longa data. Elas se conheceram enquanto vizinhas de rua nos 80, mesma época em que Therezinha era presidente da Unidos do Cabuçu e ganhou o campeonato do primeiro desfile da era Sambódromo com um enredo que homenageava Beth Carvalho. O tempo passou, Therezinha trocou as areias quentes do Leblon pela princesinha do mar de Copacabana, e com isso a proximidade das amigas ficará restrita apenas a momentos esparsos pela rua ou eventos culturais da cidade. Porém, no início de 2017, através de uma rede social, ambas se comunicaram e começou a partir dali inicia-se um “namoro poético” que trouxe a ghost writer, Tania Carvalho, como participante fundamental para a construção da narrativa do livro a partir das memórias da própria Therezinha.
O ghost writer (escritor fantasma) tem como norma deixar que o desenvolvimento da narrativa tenha um fluxo autoral a partir das impressões, histórias, ideias, as palavras, o ritmo e a respiração do entrevistado, e para isso, são feitas sessões de entrevistas para que o entrevistado possa expor suas ideias iniciais, e o ghost writer apenas organiza quebra-cabeça em uma linearidade, mas generosa, Therezinha fez questão que Tânia aparecesse no livro não como fantasma, mas para contar os bastidores da realização de Alma de Cabrocha.
Therezinha participou com bom humor de entrevistas semanais que duraram cerca de três meses. Aluna aplicada ela fazia corretamente o dever de casa, e sempre estava com tudo anotado para não esquecer um só detalhe. Durante o processo, Therezinha revisitou o passado dos concursos de Miss Brasil, onde foi coordenadora, os 17 anos a frente da presidência da uma escola de samba e sua passagem como jornalista em rádio, jornais, revistas e televisão. Uma verdadeira viagem no tempo.
Com este livro Therezinha Monte presta um tributo à sua memória e também a todas as mulheres que são presidentes de escolas de samba em todo país. É um depoimento de uma mulher guerreira que revolucionou dentro de um universo dominado por homens, tanto à frente das escolas de samba como em cargo de direção na poderosa liga das escolas, a LIESA. Enfim, “uma mulher de garra”, como definiu Sérgio Cabral, pai, um dos maiores conhecedores do samba do Rio de Janeiro.
VIDA E SAMBA
A história de Therezinha Monte se confunde com a do Rio de Janeiro. Carioca, oriunda de classe média, nascida na Zona Norte do Rio de Janeiro. É jornalista, professora e apaixonada por carnaval e manifestações culturais populares.
Jornalista de formação, Therezinha Monte enveredou por caminhos curiosos em sua carreira, tendo sido responsável pela organização dos concursos de Miss Brasil no período áureo do campeonato de beleza. No entanto, dedicou mesmo a maior parte da trajetória ao universo do samba, com o qual sempre estabeleceu uma profunda relação de respeito, idolatria e amor incondicional.
Sem nunca ter morado na favela, conquistou uma gama de torcedores fieis que ia de simples desfilantes ao mais alto escalão da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (LIESA), de cuja diretoria fez parte.
Baixinha, loira e de olhos claros, ela foi a primeira mulher a ser presidente de uma escola de samba, uma das mais importantes tradições do Rio de Janeiro.
“Dama de ferro” da Unidos do Cabuçu por quase duas décadas, levou a agremiação ao título em 1984, ano de inauguração do Sambódromo, com o enredo homenageando a cantora Beth Carvalho. O campeonato levou a escola de samba para o olimpo das grandes agremiações e seguiu participando da política das agremiações carnavalescas.
Enquanto presidente da Unidos do Cabuçu sua marca foi a inovação: fez obras notáveis na quadra da escola, inventou enredos criativos homenageando celebridades vivas, que participavam ativamente do desfile e propiciaram a busca de patrocínio, abriu as portas da Cabuçu para artistas famosos, levou para a quadra espetáculos teatrais, bailes funks e shows LGBT, abrigou carnavalescos que se tornaram estrelas depois e, ainda, participou diretamente das decisões capitaneadas pelos banqueiros de bicho cariocas, tradicionalmente os presidentes das agremiações carnavalescas.
Figura importante na lista de mulheres na consolidação da maior festa popular do Brasil ao lado de outras líderes femininas que chegaram à presidência de um grêmio recreativo carnavalesco, entre elas Carmelita Brasil (Unidos da Ponte, 1957), Andreza Moreira da Silva (União do Jacaré, depois Unidos do Jacarezinho, em 1965), Elisabeth Nunes (Salgueiro, 1986), Esclepildes Pereira (Pildes Pereira, Vila Isabel, em 1977), Lícia Maria Caniné, a Ruça (Vila Isabel, 1987), Neide Domicinina Coimbra (Império Serrano, 2002), Eli Gonçalves, a Chininha (Mangueira, 2008), e Regina Celi (Salgueiro, 2010).
Em “Alma de cabrocha”, esta obra que nos impulsiona a uma alegre e entusiasmada viagem ao lado de personagens simbólicos da cultura brasileira, não há espaços para elegias. A poesia contida na biografia de Therezinha Monte é antinostálgica. Sem melancolia, resgata o passado com precisão narrativa, disseca o presente com ternura, traduz otimismo quando se vislumbra o futuro. É por isso que Therezinha sempre foi (e continua sendo) uma mulher à frente de qualquer tempo, símbolo resiliência, capitã da resistência.
SERVIÇO
Local: La Fiorentina
Dia: 13 de Agosto
Horário: 19hs
Endereço: Av. Atlântica, 458 A – Copacabana, Rio de Janeiro – RJ,
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– Rogério Alves –
Kassu Assessoria de Comunicação