No ano em que se comemoram os 110 anos do nascimento de Noel Rosa, os Salvadores Dali festejam a efeméride de forma especial, lançando seu segundo álbum, o EP “Nos Passos de Noel”, e quatro videoclipes, todos com lançamento nas plataformas digitais na data de seu aniversário, dia 11 de dezembro. Em homenagem ao saudoso Poeta da Vila, quatro de seus maiores clássicos ganharam nova roupagem, vibrante e irreverente. A partir de um estudo sobre sua obra e seu tempo, considerando a necessidade de atualizar a linguagem musical em função dos diferentes modos de apreensão na década de 30, o grupo carioca busca, 90 anos depois, transformar a obra de Noel, respeitando as tradições, mas provocando uma audição mais contemporânea.
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O EP redesenha as linhas melódicas originais a partir de grooves de baixo e bateria, do som marcante dos metais e dos acordes agora distorcidos pela guitarra. Formado por Guilherme Logullo (vocais), Jorge Moraes (contrabaixo), Robson Batista (sax), Jorge Casagrande (bateria) e Márcio Meirelles (guitarra), o grupo traz Noel, portanto, para um universo pulsante, atualizando musicalmente a narrativa alegre que o compositor faz de sua época, apostando na perenidade da música popular brasileira, resgatando para as novas gerações o autor e sua importância na história musical do país.
Elaborado durante a pandemia, o novo EP foi produzido totalmente em isolamento social, através de aplicativos de comunicação, armazenamentos virtuais e todos os recursos digitais disponíveis, inclusive a partir de várias reuniões e gravações feitas pelo celular. Abrindo o EP, “3 Apitos”, composição de 1933 que narra de forma inusitada a paquera do próprio Noel com uma operária da fábrica têxtil Confiança, em Vila Isabel, recebe interpretação teatral do vocalista Guilherme Logullo, além do frescor do sax de Robson Baptista, delineando um paralelo da narrativa de Noel, intensificando o conhecido humor do compositor. O resultado é um rock que lembra as sonoridades da década de 80.
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Seu primeiro sucesso, composto em 1929, “Com que Roupa” recebe vibrantes tinturas de jazz e blues rock, com direito a solos de sax e do baterista Jorge Casagrande. A canção narra de forma bem caricata as dificuldades financeiras de um boêmio ao tentar se vestir para ir ao samba. Composição de 1934 e parte da Opereta “A Noiva do Condutor”, “Tipo Zero” reaparece com groove sofisticado e frases rítmicas inteligentes, subvertendo o samba de Noel e resultando num rock leve, animado e vigoroso. O balanço do funk e do soul brasileiro viram do avesso a outra pérola de Noel, “Palpite Infeliz”, uma de suas composições mais regravadas na MPB, e que aqui ressurge com frescor e singularidade. Composta em 1935, é considerada o ápice da polêmica entre Noel e o sambista Wilson Batista, que perdurava através de várias composições, sendo a canção uma resposta ao samba “Conversa Fiada” de Wilson.
Salvadores Dali
O grupo carioca é fruto de uma amizade que nasceu há mais de 30 anos, quando o baixista Jorge Moraes e o compositor Nelson Ricardo montaram uma banda de rock para tocar na escola nos anos 80. Não imaginavam que retomariam o plano original do grupo em 2015. Inicialmente, deveria ser apenas um registro de uma época, porém se tornou um promissor projeto musical devido à qualidade das gravações iniciais. Retomaram canções perdidas da adolescência, com uma atualização nos arranjos elaborados pelo grupo que ganhou o reforço nos vocais de um dos atores-cantores mais requisitados do Teatro Musical, Guilherme Logullo, protagonista de espetáculos como “Nelson Gonçalves – O Amor e O Tempo” e “Bibi – Uma Vida em Musical”; do baterista Jorge Casagrande, diretor de uma das escolas de bateria mais conhecidas do Rio de Janeiro; do músico e produtor Marcio MM Meirelles; e do saxofonista Robson Batista.
Com a formação consolidada, os Salvadores Dali resolveram lançar um álbum em 2019. Dentre as oito canções do disco de estreia, “3 Apitos” já indicava o início do namoro com a obra de Noel que agora ganha vida com o EP “Nos Passos de Noel”.
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