Eu, em particular, não era intima das pessoas que foram brutalmente assassinadas nesta noite de sexta (14), mas acompanhava a militância de Marielle Franco.
Sei que não fui a única a ter esse sentimento, o Brasil está chocado e sentindo profundamente. E aí, me veio a reflexão sobre a questão de “Ter de morrer para se fazer algo… ”
Veja também: Ele voltou! Mestre Jorginho retorna ao comando da bateria da Vizinha Faladeira
Deveria ser natural eu poder ver meus heróis e heroinas morrerem de velhice ou por outras causas como doença, coisas que existem e que de certo modo são mais previsíveis e aceitas em um planeta aonde há vida inteligente. Mas não, não foi o que houve, pelo menos com esta grande mulher e colega de trabalho. Ter a vida tirada de forma egoísta e brutal me fez compreender de modo infeliz que a vida inteligente neste planeta está entrando aceleradamente em extinção.
Neste momento de intensa dor e Ininterruptos enxames introspectivos, eu não gostaria de ver discursos fabricados para a ocasião e a adoção de leis emergenciais a partir de mais derramamento de sangue inocente. Inocente este, que brigou e deu sua vida pelo fim do derramamantode outros tantos sangues inocentes. Não gostaria de ver pessoas de bem que lutam pelo direito de todos, se transformarem em nomes de ruas, de praças, de instituições; com seu busto em bronze exibido em algum lugar, para dar algum sentido ao seu sacrifício em prol de uma sociedade “tida como justa”. Estes heróis e heroínas que tiveram suas vidas ceifadas, por acreditar em mudanças e igualdade em prol de uma sociedade menos hipócrita e excludente deveriam estar entre nós, neste exato momento, vivenciando de perto as grandes transformações sociais, colhendo os frutos maduros plantados com seu suor e lágrimas.
Poderia ser natural eu me assentar com meus filhos e planejar ir a um ato público marcado por discursos arrojados, e apoiar essas causas humanitárias e poder abraçar esses brilhantes líderes. Mas no mundo de hoje vejo que não é mais assim… Porque no mundo de hoje nossos heróis não têm um final feliz… Gostaria que fossem exemplos vivos, não póstumos.
Vale a pena ver de novo: Em sua quinta edição, Projeto Itinerante Samba Bom é opção para quem busca música boa na Zona Norte
Me preocupa a forma que falamos: “Ele ou ela morreram por uma causa, e serão lembrados por isso!”
Será que terei de ser espancada, morta para alguém fazer valer a minha luta por mais segurança…? Será que vou ter que, virar de vítima de mais um ato de racismo e ser assassinada para para que dejam reforçadas as frentes de militância? Será que vou ter de ser violentada para escutarem meu grito de socorro?
Até quando vão ter de morrer mais Marielles e Andersons para que algo seja realmente feito, reparado, erradicado…?
Até quando leis serão criadas ou revisadas a partir de um ato de violência de magnitude global…?
Me perdoe sociedade, mas ainda quero abraçar pessoas que lutam por mim, por todos nós…
Por – Andrea Lacocca –
Jornalista / Assessora de Imprensa
Foto / Divulgação