Seu nome, se traduzido do hebraico tiberiano revela as palavras “Sua Excelência / Posteridade”; e talvez sejam essas as razões pelas quais o “Prof. Jetro Alves da Silva” retorna ao Brasil, após uma longa e promissora temporada na prestigiada Berklee College of Music, de Boston, Massachusetts, onde lecionou e atuou como membro da “Comissão de HIP-HOP” para apostar nos empreendedores da “Cultura Urbana”.
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Nascido no Méier, bairro da Zona Norte carioca e criado na Baixada Fluminense, mais precisamente no município de Caxias, iniciou seusprimeiros passos na música logo aos 12 anos de idade. Com apenas um mês de aulas de piano, já estava tocando para sua congregação (Igreja Batista São João de Meriti). Aos 14 anos ingressou na Escola Nacional de Música –instituição de música clássica mais respeitada do Rio de Janeiro – como bolsista integral.
No entanto, sua carreira de sucesso se dá como pianista, quando ele passou a acompanhar o saudoso Emílio Santigo, no final dos anos 1980. Desde então, conquistar a atenção da “Terra do Tio Sam” foi questão de tempo… No berço da Black Music acompanhougrandes nomes como Gladys Knight, Chaka Kan, Jamie Foxx, PattiLabelle, Earth Wind andFire, Stevie Wonder, Luther Vandross, Kem, Celine Dion, Patti Austin, Monica, Mary Mary e Whitney Houston, com quem tocou de 1999 até ela falecer. Aliás, para Whitney, Jetro produziu uma média de 25 arranjos que se tornaram clássicos eternos da diva.
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Nessa entrevista exclusiva para o Portal Anderson Lopes, Jetro fala sobre as diferenças entre Brasil e EUA e a importância de ter uma mente aberta para as outras Culturas – como a “Cultura Urbana”, por exemplo –, tidas como “à margem” da classe musicista, respeitando-as como o “desejável estilo de vida” de muitos jovens que encontraram nestas uma forma positiva para a sua formação humana.
Dj Zulu Tr – O senhor vem de uma linha de formação cristã aqui no Brasil. Pode-se afirmar que os primeiros passos da sua formação profissional vieram da Igreja, como assim acontece nas “igrejas afro-americanas”?
Jetro da Silva – Vou dizer algo que a minha família evangélica não vão gostar. Eles não vão gostar porque eu não diria que tenho apenas uma educação evangélica. Por quê? Eu cresci ouvindo rádio aqui no Brasil. Naquela época, costumávamos ouvir Stevie Wonder, James Brown, etc. E,paralelo aos cantores da Cultura Black secular, ouvíamos Oséas de Paula, Vencedores por Cristo eÁlvaro Tito.Nossa família morava perto de um centro de Candomblé, o que me levou de volta às minhas raízes ancestrais, devo reconhecer isso. Quando eu produzo certos tipos de música, hoje tenho que reconhecer que também há todo o tipo de influência cultural e não apenas a músicaevangélica, que eu amo e cresci ouvindo.
Dj Zulu Tr – O senhor foi músico de Emílio Santiago, creditado por um congressonacional de otorrinos e cirurgiões de cabeça e pescoço, fonoaudiólogos após análises técnicas como “A Voz Mais Perfeita do Brasil”… Como você chegou até ele?
Jetro da Silva – Emílio chegou num período em que nossa família passou por dificuldades financeiras e vivia de favor em uma igreja na Barra da Tijuca (bairro da Zona Oeste carioca), com a ajuda de um pastor chamado Márcio Alves. Naquela época, um amigo meu disse: “você deveria ir ao People, no Leblon, e tocar” [badalada casa noturna da Zona Sul carioca existente entre os anos 1980-1990]. Depois toquei láde novo, em 1986. Quando terminei de tocar, cantar e cantar Beijo Partido, o saudoso Luizinho Eça deixou a cadeira onde estava – e foi um momento marcante– e me deu um beijo e me abraçou. Isso, para as pessoas que entendem o simbolismo, ele estava dando a “bênção” para a próxima geração. A propósito, eu também estudei com ele. Por que eu toquei Beijo Partido? Porque algumas semanas antes eu havia tocado no Jazzmania com Toninho Horta, recomendado por Hugo Fatoruzzo. Eu estava na casa dele porque queria estudar piano com ele. Ele disse: “Não estou lhe dando aulas, você toca muito bem”. Uma semana depois, o telefone toca na casa do pastor Márcio. Era o agente de Toninho Horta dizendo: “Hugo não pode fazer esse show no Jazzmania e disse que você precisa substituí-lo”. Foi o meu primeiro show no Rio de Janeiro… Voltando ao People, um cara veio e disse: “tem um cara no Sobre as Ondas (boate em Copacabana) procurando um substituto. Ele tocará com Leny Andrade agora e está saindo em turnê”. Fui ao Sobre as Ondas para conhecer o João Coutinho. Depois de muita conversa, ele perguntou: “Você quer tocar?” Eu toquei e ele disse: “O trabalho é seu! Aqui está o livro, estude o livro. Agora tenho que resolver o problema do Emilio. Ele precisa de um pianista. Cinco apareceram e ele não gostou de ninguém.”Então eu disse a ele: “se você quiser, também posso tentar tocar com Emilio. Nessa época eu estava indo para Campinas toda semana. Aí eu ligo para Emílio: “Aqui é o Jetro da Silva”, ele diz: “Ouvi dizer que você quer tocar para mim, você está disponível?” Então eu disse: “Aqui estou Emilio, mas você precisa me ouvir primeiro. Vou a São Paulo na sexta-feira, você pode marcar uma audição para o sábado?”Então eles marcaram um ensaio no último minuto (a banda era Paulinho Criança na bateria, Adriano Giffoni no baixo, Jiló na percussão, Zé Canuto no sax e Marquinho Arcanjo na guitarra). Mais tarde, ouvi dizer que Emílio, quando me viu, ouviu uma voz dizendo que eu era o pianista! Nessa época, também tive a oportunidade de tocar no hotel Meridien, porque Emílio tinham datas sazonais de shows. Então, finalmente, tive condições de conseguir um fiador e alugar um apartamento no prédio que minha mãe ainda vive, em Copacabana. Consegui o fiador por causa da atriz Darlene Glória, que tinha uma igreja com o marido na época. Ela ligou para algumas irmãs e disse: “Tem um garoto aqui que você tem que ajudar, ele tem que alugar esse apartamento e não tem fiador”. A irmã assinou e foi minha garantidora por anos… Isso é só um pouco do que passei para alcançar os meu objetivos e agradeço muito a Deus por ter colocado todas essas pessoas iluminadas no meu caminho.
Dj Zulu Tr – E como se deu essa troca de ambientes, de repente Estados Unidos?
Jetro da Silva – Fiquei lá com o Mestre Emílio por quase três anos e fui embora, fui para Berklee! O falecido Claudio Caribé me contou sobre a escola, escreveu uma carta ao presidente da época, Lee Berk. Lee disse que seria bom se eu fosse lá para conhecer a escola e que se eu gostasse, seria recomendável fazer o curso, que é a maneira mais fácil de obter uma bolsa de estudos. Com essa carta, recebi o visto que parecia um convite. Depois, com o dinheiro da temporada que fizemos no Asa Branca (boate na Lapa, Rio de Janeiro), fui viverminha experiência na Berklee. Eu parecia um menino rico (risos). Eu fiquei em Nova York por uma semana, tem noção disso, pra um jovem negro que podia ter entrado na trágica estatística para jovens afro-brasileiros sem oportunidades…?!
Dj Zulu Tr – E qual foi o primeiro degrau galgado em Berklee?
Jetro da Silva – Engenharia e produção… (risos). Surpresa! Claudio Caribé me orientou: “Jetro, se você for… a tecnologia está mudando, você já toca bem e, para tocar para sempre, pode ter um professor particular. Mas o acesso à tecnologia é o grande negócio, vá em frente”. E olha que curioso, eu não falava NADA de inglês naquela época, mas sempre fui muito extrovertido, daí a coisa flui… (risos).
Dj Zulu Tr – O senhorchegou nos EUA com uma formação de ritmos ligados à cultura afro-brasileira, e engajou-se profissionalmente no R&B de raízes afro-americanas. Como foi essa experiência de trazer para a “Terra do Spiritual” os “Batuques dos Quintais”?
Jetro da Silva – Quando cheguei, havia aquela mentalidade de como respirar e o conhecimento de que a música não se limita apenas à nota. Quando eu toco samba, para mim não é apenas a nota. Claudio Caribé havia me dito: “não vá com essa mentalidade, sou brasileiro e toco bossa novae eu sou o melhor do mundo. Vá até lá e honre seu conhecimento. Você conhece os hinos da igreja que são hinos americanos. Então, procure uma igreja imediatamente. Você é negro! Use isso para o seu benefício, tente entrar na Comunidade Negra.” E foi o que eu fiz. Entrei no coral gospel da escolacomo cantor e, cantando, conheci todos os cantores. E quando eles me ouviram tocar piano começaram a dizer: “ele toca bem, ele é da igreja, então ele toca gospel”, e as pessoas começaram a ouvir sobre esse cara brasileiro que toca Pop bem, que toca R&B bem… Um amigo me aconselhou: “Jetro, você quer entender a genialidade de Herbie Hancock? Então você precisa entender quem Hancock ouviu…! Mas não é copiar a nota: é observar como a nota emana, como ela se articula”. Os músicos brasileiros da velha escola já sabiam disso. Ion Muniz (saxofonista) sabia disso. Marcio Montarroyos (trompete) sabia disso. Por isso, quando Márcio tocava, as pessoas não o viam como músico brasileiro; para eles, Montarroyos estava no mesmo nível de um músico americano. No legado de trombetas do Brasil, Marcio Montarroyos, Paulinho Trompete, sãoreverenciados no mesmo nível de “um Freddie Hubbard”, por exemplo.
Dj Zulu Tr – Dentre os grandes títulos da Black Music, o senhor esteve ao lado da eterna “Whitney Houston” até o fim de sua carreira. Conte-nos um pouco sobre como foi fazer parte do time de profissionais daquela que foi reconhecida mundialmente como “A Voz”?
Jetro da Silva – Foi uma grande honra e um privilégio sem igual. No início da minha interação com a banda, nós – os novos membros –, tínhamos consciência de que tínhamos sido escolhidos para fazer parte de uma grande herança musical, que iria mudar nossas vidas eternamente. Nunca me esquecerei dos nossos ensaios e do nosso primeiro ensaio em que ela veio cantar conosco com a presença da BBC de Londres, fazendo uma entrevista sobre sua turnê em 1999… Eu entrei na banda em julho de 1999 e fiquei até a sua morte, tendo o privilégio de tocar no seu funeral com os outros escolhidos a dedo pela família. Musicalmente e espiritualmente a sensação de estar ao palco com a Whitney Houston foi inesquecível. Ela realmente foi muito especial com uma missão única. Em termos profissionais, eu não preciso dizer que nos todos só temos a agradecer. Só tivemos do bom e do melhor. Tocamos para reis e rainhas. Viajamos para muitos países sendo tratados das melhores formas. As produções foram fantásticas e tudo nos foi dado para que não tivéssemos desculpa para não fazer um bom trabalho. Como um afro-brasileiro, foi um sonho impossível que se tornou uma realidade que me deu o privilégio de dizer que fui o único brasileiro que pode dizer que nasceu no Méier, criado na Baixada Fluminense, que morou no morro, que pode dizer que trabalhou com a “Whitney Houston” como pianista, guitarrista, arranjador e programador de 1999 até 2012.
Dj Zulu Tr – O senhor integrou na “Comissão de HIP-HOP” de Berklee. O que o atraiu para esse setor, haja vista as suas experiências com outros gêneros considerados muito mais “técnicos” na categoria musicista?
Jetro da Silva – Esta comissão foi criada, pois como professor da Berklee, eu fui indicado a ser parte desta. Foi óbvio detectar na época que este fenômeno cultural chamado HIP-HOP não iria a lugar nenhum e a escola resolveu convocar professores de várias áreas do Berklee College para uma discussão relacionada ao HIP-HOP no mundo acadêmico. A minha humilde contribuição foi de demonstrar com evidência de que o Hip-Hop já tinha muito interesse no mundo acadêmico, quando provei que na época já existia centenas de jornais e livros acadêmicos publicados. O que me atraiu para esse setor foi a minha experiência trabalhando com vários tipos de artistas não somente pop, mas também no jazz ou latino que, de algum modo, também convergem em favor da musicalidade do HIP-HOP, simplesmente por virem da mesma “árvore cultural”. Na área de Boston, New York e Los Angeles fui privilegiado de trabalhar com vários artistas no mundo do Hip-Hop como “SWV” e outros.
Dj Zulu Tr – O senhor é amigo pessoal e já teve a oportunidade de trabalhar com ninguém mais que “Trevor Lawrence Jr.”, um dos produtores mais importantes que compõe o Dream Team de “Dr. Dre”. Como é compartilhar conhecimentos nesse particular e como isso pode refletir para o nosso HIP-HOP aqui no Brasil?
Jetro da Silva – Eu conheci o Trevor antes dele se tornar o renomado“Trevor Lawrence Junior”, quando tocávamos para o Kevin Toney, um grande músico. Trevor é um tremendo baterista de tal nível, que toca com o Herbie Hancock. Com o Trevor, tive o privilégio de trabalhar com a Pattie Austin (afilhada da Quincy Jones) e outros artistas como Greg Phillingains e várias gravações em seu estúdio. E com esse meu retorno ao Brasil, prevejo relações promissoras entre os Movimentos Afro-americano e Afro-brasileiro.
Dj Zulu Tr – Como o próprio “AfrikaBambaataa” já declarou sobre o nosso HIP-HOP, além de sermos um país do tamanho de um continente, ainda conseguimos manter em 80% do nosso território um Movimento Cultural baseado em princípios e valores; no entanto, não conseguimos administrá-lo plenamente para a nossa “sustentabilidade”. Lá nos EUA é assim também? Como vocês lidam com essas questões?
Jetro da Silva – Em minha opinião, não existe país prefeito, como não existe um ser humano perfeito. Entretanto, eu acredito no potencial de cada ser humano. Existe um ditado nos Estados Unidos que diz “a grama sempre parece mais verde do quintal dos outros”. A questão de sustentabilidade é uma realidade internacional, não somente do ponto de vista brasileiro. Eu gostaria de fixar minha resposta na importância do “conhecimento de história e empreendimento”. Existe uma passagem nas Escrituras Sagradas, que sempre tocou a minha mente: “meu Povo está morrendo por falta de ‘Conhecimento’…” [Oseias 4:6].É claro que o texto tem um contexto direcionado ao conhecimento em relação espiritual. Entretanto, também acredito que esta questão possa ser abordada neste caso. Entendimento da importância e de como desenvolver sustentabilidade é imperativo. Nos Estados Unidos, como em outros países, existem aqueles que têm acesso a esta informação e aqueles que têm esta informação. Também tem aqueles que levam esta informação a sério e outros que não. Eis a minha resposta para isso:“se todas as portas se fecham, crie a sua porta!”.
Dj Zulu Tr – O senhor também está fundando aqui no Brasil um “Instituto” que possa acolher e formar o jovem de baixo poder aquisitivo como um profissional da música, dando também devida extensão para artistas da Cultura Urbana [DJs, MCs e Rappers]. Fale-nos um pouco a respeito.
Jetro da Silva – Nosso desejo e meta é de criar o “Instituto Jetro da Silva”, com o objetivo citado, dando acesso como recebi também recebi um dia; porém tive que sair do Brasil. Hoje, com o desenvolvimento tecnológico, podemos sistematizar informações em um currículo maior e treinar nossos jovens em várias áreas no músico, musical e administrativo com um olhar de empreendedor. Esta é a nossa meta. Que esses cresçam e se tornem os novos líderes no século XXI.
Dj Zulu Tr – Qual Conselho o senhor daria ao jovem desfavorecido socialmente, que vê na formação musical uma forma de vencer as inúmeras dificuldades do seu cotidiano?
Jetro da Silva – A Música é mais que entretenimento. A Música tem o poder de levar nossa mente para um momento especial em nossas vidas. A Música tem o poder de trazer alegria num momento de muita tristeza. A Música mudou minha vida e relacionamentos. A Música pode desenvolvê-lo intelectualmente. Os que estudam Música aprendem a ter sucesso em “Matemática”, porque Música também é Matemática… Meu conselho? Continuem a ouvir Música. Porém, todos os tipos de Música! Cantadas, instrumentais, brasileiras, internacionais… Leiam sobre os artistas, compositores, DJs, MCs…..Rappers …Percussionistas… Todos têm uma história… Essas histórias te incentivarão a ver que não estás sozinhos neste mundo de múltiplas oportunidades e possibilidades.
Lembre-se: nunca desista!… Você tem um futuro maravilhoso pela frente… Porém, o processo de construção é necessário e não pode ser “cortado por atalhos”, pois lá na frente você poderá ser cobrado severamente por isso…
Assista:
https://www.youtube.com/watch?v=dqINqaLSVSI
https://www.youtube.com/watch?v=fu_pTY3yfug
https://www.youtube.com/watch?v=Oku3QRH-3fc
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Colunista / Escritor e Pesquisador da Cultura Black: -Dj Zulu Tr-