Seja no Bronx – berço do Movimento Cultural HIP-HOP -, nas peferias de São Paulo, nas ruas históricas do Recôncavo Baiano ou nas Favelas do Rio de Janeiro, o HIP-HOP sempre foi uma potente trilha sonora das gerações de pele escura e cabelos crespos…
Extremamente sensíveis à perda irreparável da Vereadora e Ativista Política “Marielle Franco”, vítima de um atentado a tiros, ainda inexplicável aos olhos das autoridades de segurança, na noite de quarta-feira (14), quando saía de uma reunião com militantes em um sobrado no bairro da Lapa, no centro da cidade do Rio de Janeiro, tendo seu carro seguido e alvejado com tiros, resultando nos assassinatos da vereadora e de seu motorista, “Anderson Pedro Gomes”, representantes do Movimento Cultural HIP-HOP externaram seus sentimentos nas redes sociais e em entrevistas ao Portal “AL”, demonstrando que o grito de Marielle não se calará:
“Vereadora Negra, Porta-voz Crítica da Violência Policial. ASSASSINADA”, dizia o flyer postado pelo ativista e indicado ao “Prêmio Nobel da Paz” em 2010, “Afrika Bambaataa” [creditado como o Idealizador do HIP-HOP e fundador da “Universal Zulu Nation”, tida como a Primeira Escola de HIP-HOP do mundo], em seu perfil oficial do Instagram. “Pare com os assassinatos no Brasil, Colômbia, USA, Haiti, e por todo o mundo, aonde existir nossos nativos chamados Pretos/ Negros”
desabafou Bambaataa concluindo sua postagem.
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“Mano Brown”, líder do maior grupo de RAP do Brasil, os “Racionais MC’s”, também declarou sua indignação em seu perfil pessoal no Instagram:
“#LutoporMarielle”, dizia seu post póstumo de letras brancas, com fundo em preto. “E como dia ‘Galvão Bueno’: ‘Eu já sabia, nunca me empolguei com eles’ [parafraseando e referindo-se ao sistema político do país]! 30 anos na história é um grão! A luta vai muito além de um Beat”, define Brown em sua postagem, dando a entender que o RAP não será a única forma de expressão de um povo oprimido pela desigualdade.
O rapper “Rael da Rima” foi outro importante artista do meio que também expressou seus sentimentos em seu perfil no Instagram:
“Uma tristeza, uma pena. Com certeza perdemos alguém que estava fazendo uma real diferença, que estava deixando em choque as pessoas do mau. Lutou até o último dia da sua vida por dias melhores. Descanse em Paz! #MarielleFranco #Justiça”
Morador do Morro do Pinto, localizado no Complexo da Providência [historicamente considerada como a primeira favela do Brasil], o grafiteiro “Kaleb” expressou sua admiração por Marielle através da arte plástica das ruas, e reproduzida nesta matéria:
“Eu sou filho, neto e marido e fui criado por mulheres. E todas mulheres guerreiras. Eu tô impactado com toda essa situação que deixou a gente sem chão!”, descreve. “A gente tem vivido numa sociedade muito difícil, que passa por momentos difíceis. E, se deparar com uma agressão dessa natureza, contra uma mulher da posição da Marielle, se torna algo inacreditável!”, considera Kaleb. “Particularmente, demorei um pouco a assimilar o fato, talvez por várias horas. Porque a gente sabe de onde ela veio! A gente observou toda a luta dela pra chegar aonde chegou! E quando ela chega, finalmente como representante do povo preto e pobre, ela nunca deixou de olhar pra trás e buscar por mudanças favoráveis a todos. E esse tipo de atentado, ele meio que tentou tirar a nossa perspectiva, com um objetivo de apagar a história de uma mulher negra e militante. Apagar o sonho de milhares de pessoas no Brasil e no mundo à fora, que estão passando por essa mesma gravidade agora, nesse exato momento”, reflete. “As pessoas que estão nas nossas comunidades, ou não; negras ou não, precisam agora ter a sensibilidade de enxergar que a gente precisa mudar alguma coisa, a partir da empatia com o outro, sem demagogia, sem vaidade. E quando isso aconteceu com a Marielle, eu passei a me perguntar: ‘O que será de nós? O que será de mim? O que vou fazer agora? Qual será o meu próximo passo? Vou com o mesmo gás? Então, é difícil descrever esse sentimento… E foi nesse Graffiti que busquei essa força, essa resposta”, finaliza Kaleb, emocionado durante a entrevista ao Portal “AL”.
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“Zulu Queen Verônica de Souza” é professora de Língua Portuguesa e Linguística pelo Instituto Federal da Bahia – IFBA, Doutoranda em Língua e Cultura pela Universidade Federal da Bahia – UFBA, membro da Academia Brasileira de Letras do Brasil, membro ocupando o número 32 da csdeira da Academia Porto Segurense do Brasil, é ativista e pesquisadora da História Negra e do Movimento Cultural HIP-HOP, é representante do Movimento HIP-HOP da Bahia e da “Universal Zulu Nation” em seu estado. Verônica, enquanto produto do meio, não deixa de relatar o quanto a pessoa de Marielle a inspirou em sua luta:
“O espírito Ubuntu é o que prevalece para mim agora. Ou seja, eu sou o que sou pelo que nós somos. Eu não conhecia a Marielle pessoalmente, mas pelas pesquisas para um projeto pessoal, o ‘Makeda’s’, eu a conhecia de militância e ativismo e acompanhava o seu trabalho. Eu já a admirava. Admirava e a tinha como uma das minhas referências por comungar de características e caminhos de vida”, reconhece. “Sempre que eu tenho conhecimento de uma morte de alguém da periferia, negro, de um dos nossos me marca, me dói. E eu estava trabalhando na tese quando recebi a notícia da morte dela. Dali e por dois dias seguidos eu chorei. Eu nunca tinha sentido tanto por alguém aparentemente estranho à minha vida, falo de família, laço de sangue… Entende? A Marielle morreu lutando! Marielle morreu com 4 quatro tiros. Na cabeça. Quatro alertas: Não resistir, não lutar, não denunciar e… silenciar”, reflete Verônica, muito emocionada em sua fala. “Tiros que não foram apenas nela. Outras duas pessoas atingidas: uma fatalmente, o Anderson, que dirigia o carro e a outra que teve ferimentos físicos leves, mas ferimentos psicológicos possivelmente irreversíveis. Ato que deixava uma mensagem: ‘a tentativa de calar Marielle e, com ela, todos aqueles que partilham dos mesmos ideais e o grande risco que se corre quando escolhe o caminho de lutar contra as desigualdades’.
Eu espero que, após esse luto, não paremos a luta, não nos paralisemos. Marielle morreu como morrem as mulheres negras neste país: como um escudo. Quando a assassinaram não queriam apenas assassiná-la, queriam calar um grupo, queriam calar um povo, queriam calar as vozes que gritam contra os desmandos, contra as desigualdades e os aparelhos desestruturados e que agem de maneira ilegal. Para seus algozes, que agiram covardemente, a morte dela é a tentativa de silenciar outros que, como ela, clamam por um país igual para todos. Para os que acreditavam e acreditam na sua luta, a morte dela é, após o luto, a luta! A continuidade! A busca pelos assassinos, a busca por um país de igualdade, a busca pela educação, pela formação e por vidas estruturadas para todos! Não faremos isso sem formar o nosso povo. E como professora, eu acredito que somos nós, que viemos das comunidades e avançamos e vencemos de alguma maneira na vida, que quando subimos devemos puxar os nossos. Se não fizermos isso, ninguém fará. Foi o que Marielle fazia! Com certeza, é o que ela quer que continuemos fazendo. Poder para o Povo Preto!”, finaliza “Zulu Queen Verônica” com a fala embargada, em entrevista ao Portal “AL”.
Marielle Francisco da Silva, conhecida popularmente como “Marielle Franco”, nasceu em de Janeiro, 27 de julho de 1979 e era oriundo do Complexo da Maré, na Zona Norte Carioca. Foi socióloga, feminista, militante dos direitos humanos e política brasileira filiada ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL. Elegeu-se vereadora do Rio de Janeiro na eleição municipal de 2016, com a quinta maior votação. Crítica da intervenção federal no Rio de Janeiro e da Polícia Militar, denunciava constantemente abusos de autoridade por parte de policiais contra moradores de comunidades pobres. Morreu em 14 de março de 2018, assassinada a tiros, sem deixar de acrefitar nas conquistas de um povo oprimido pela desigualdade…
Paz e Eterno Respeito!
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Por: DJ “Zulu” TR.
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