Enquanto o Estado buscava dar uma resposta imediata à sociedade diante a onda de incidência na Linha Amarela na altura da Cidade de Deus, e o morador recebia o potente bélico como convidado inesperado no seu café da manhã desta quarta-feira (07), um tímido grupo de agitadores culturais, procurava através da Arte do Graffiti gritar para o mundo o sentimento de cerca de setenta mil familias:
“Estamos cansados de ver pais enterrando seus filhos, quando o natural seria seus filhos enterrarem seus pais no processo natural da vida”, desabafa “DJ TR”, 45 anos, morador da CDD há 44, representante da “ATCON Zulu Chapter”, coletivo cultural atuante no bairro.
Ao lado dos amigos “Jhonny Barroso”, “MC Mingau” e os grafiteiros “Flávio Ébano” e “Marcelo Melo”, DJ TR também é integrante do projeto “Embaixada HIP-HOP”, existente no bairro desde 2014.
Utilizando uma das pilastras de sustentação da Linha Amarela que dá acesso à entrada da Cidade de Deus para quem está vindo dos bairros da Freguesia e Barra da Tijuca, a frase “Uma Porção de PAZ Muda o Mundo”, causou perplexidade tanto para as tropas concentradas aos arredores do local, quanto para transeuntes que desembarcavam apressadamente das conduções de massa e motoristas receosos, que não sabiam se reduziam as marchas dos seus automóveis para matar a curiosidade de deslumbrar uma ação que se destacava em meio a todo aquele cenário de tenção:
“A Arte nunca se calou diante das injustiças e não é agora que ela vai se calar. Nossas crianças precisam de referências positivas. Aqui é muito fácil o jovem se desviar do caminho da escola, para buscar um resultado mais rápido para atender às suas necessidades de ‘ser alguém respeitado’. E manifestações como estas provocam um repensar na vida desse menino que cresceu vendo o fuzil como seu principal espelho”
reflete o produtor cultural “Jhonny Barroso”
Na semana passada, confrontos entre policiais e traficantes no bairro fecharam a Linha Amarela em dois dias seguidos. Mais de três mil militares participaram da ação desta quarta, deixando as unidades escolares da região sem aula, já na primeira do seu ano letivo.
Em seu objetivo prioritário, a operação visava prender criminosos procurados:
“Só de passar o dia aqui na CDD pintando e recebendo o carinho do morador e das crianças que o tempo todo atravessavam a rua pra nos elogiar e perguntar se a gente dava aula de Graffiti, eu posso te dizer que já ganhei o meu dia”, desabafa emocionado o gafiteiro “Flávio Ébano”, que além de pai é morador de Guadalupe, outro bairro assolado pela violência.
– Andrea Lacocca –
Jornalista / Assessora de Imprensa