Seria impossível falar das raízes do HIP-HOP, sem mencionar as gangues de rua de Nova York da década de 1970, em especial a “Black Spades”, a pioneira das street gangs do bairro Bronx e a protagonista central do surgimento do Movimento Cultural que conquistou o planeta com sua proposta revolução humanitária através de seus Elementos Artisticos, e que hoje (19) completa 50 anos de existência.
Naquela época, o bairro do Bronx era verdadeiramente uma selva de concreto, mas lá, no meio
dessa intensa “guerra das street gangs” que o HIP-HOP nasceu. Gangs como os “Black Spades”, “Savage Skulls”, “Savage Nomads” e “Ghetto Brothers” controlavam as ruas.
Aliás, o filme “The Warriors” [“Os Selvagens da Noite” (título no Brasil) ), de 1979 do gênero ação, dirigido por Walter Hill e baseado no livro homônimo de Sol Yurick], que narra a história sobre uma gangue de Nova York que é perseguida após ser acusada injustamente do assassinato de “Cyrus”, o líder da maior gangue da cidade, não se trata apenas de um cenário fictício para descrever o ambiente rarefeito gerado pelas street gangs, mas relata o lamentável incidente que ocorreu junto a um importante membro dos Ghetto Brothers “Black Benjy”, considerado um potente mediador de conflitos devido sua serinidade de caráter.
E para se ter uma noção mais detalhada sobre este conturbado cotidiano que deu origem ao HIP-HOP, convido a você, prezado leitor, a mergulhar de cabeça no ano de 1968… Vítima do mau planejamento da construção urbana [como por exemplo, a edificação da “Cross-Bronx Expressway”, uma via expressa no coração do Bronx, além da produção de complexos de apartamentos enormes, etc…], a classe média do Bronx, composta por famílias italianas, alemãs, irlandesas e judaicas, se afastou da região por conta da diminuição da qualidade de vida. Em vez disso, cada vez mais famílias pobres de Afro-americanos e Hispânicos se estabeleceram nas áreas abandonadas. Deste modo, tornou-se inevitável o aumento da miséria e consequentemente problemas causados pelo crime, drogas e desemprego. É neste cenário propício ao caos, que surgem “sete adolescentes” que se autodenominaram os “Savage Seven” [“Sete Selvagens” em bom português], e juntos iniciaram uma onda de terror em seu bairro e com suas ações estabeleceram as bases para algo que dominou o Bronx durante os próximos 6 anos: a controversa cultura das “Street Gangs”.
Não demorou muito tempo, para que essas gangues eclodissem por todos os cantos do Bronx, obrigando os Savage Seven a mudar seu nome para “Black Spades”, devido o crescente número de membros ingressados. Outros nomes como “Savage Skulls”, “Seven Immortals”, “Seven Crowns”, “Savage Nomads”, “Ching Aling”, “Black Skulls”, “Latin Kings”, “Young Lords” e muitos outros podiam ser vistos por todos os lugares.
Os Black Spades se originaram em 1968 na localidade de Bronxdale Houses, no sub-bairro de Soundview, no Bronx com o antigo “Savage Seven”, sob os tetos da Junior High School 123 na Morrison Ave, e à frente da liderança de um adolescente conhecido pelo apelido de “Bam Bam”.
No início da década de 1970, os Black Spades aumentaram em números e os membros começaram a perder o foco de sua finalidade original. E mesmo estando organozados em divisões que variavam de faixas etárias, os Black Spades e os membros mais jovens [“Young Spades”/ “Baby Spades”] tornaram-se violentos e outras divisões totalmente desenfreadas. David, um dos fundadores da Black Spades, não concordou com a direção tomada pelas divisões, e se desligou como presidente da “1ª Divisão”.
Filho de pais Caribenhos, o jovem “Kahyan Aasim”, nascido no Bronx em 1957, cresceu em meio à valiosa biblioteca da sala de casa e a coleção de vinis de sua mãe, isto sem falar sobre as reuniões do “Black Panther Party for Self-Defense” [organização socialista revolucionária fundada por Bobby Seale e Huey Newton em outubro de 1966, que consistia na patrulha de cidadãos armados para monitorar o comportamento dos oficiais do Departamento de Polícia de Oakland e desafiar a brutalidade policial em Oakland, Califórnia, e que se espalhou pelos guetos Afro-americanos e em parte da Europa e África], cuja mãe e o tio eram membros. No entanto nada disso o impediu de encontrar nos Black Spades um modo de ser respeitado nas ruas. E muito embora atuasse como membro de uma street gang, Kahyan frequentava e escola. E foi na Adlai E. Stevenson High School, que ao conquistar o primeiro lugar de um concurso de redação escolar promovido pela UNICEF em 1973, que Kahyan ganhou como prêmio uma viagem de duas semanas à África e ao retornar de lá, objetivou seu propósito de transformar membros de gangues em verdadeiros ativistas das causas humanitárias.
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Naquela época, ele já era DJ e realizava festas desde 1970. E após ter visto o lendário “DJ Kool Herc” no playground do histórico endereço de número 1520 da Sedgwick Ave, no bairro de Morris Heights, no West Bronx, Kahyan inspirou-se no padrão de seu colega, aplicando-o no Bronx River Community Center, localizado no South Bronx.
Aproveitando o desgaste entre as street gangs e o desejo de projeção destes jovens através de ações que não os colocassem em risco constante, Kahyan aproveita a sua grande reputação de “warlord” [espécie de “Sargento das Armas” de uma street gang] da Black Spades, e convida alguns de seus integrantes à fundarem a “Bronx River Organization”, que tempos depois foi rebatizada simplesmente de “The Organization”, atendendo a pedidos de outros ex-membros de gangues vindos de outras localidades do Bronx.
Apoiando seu amigo de organização, Bam Bam batiza Kahyan com o nome de “Afrika” [em homenagem ao continente que visitara] “Bambaataa” [em memória ao Chefe Zulu “Bambatha kaMancinza”, líder tribal precursor da resistência negra na África do Sul em 1906].
Ainda naquele ano, Kahyan Aasim, agora “Afrika Bambaataa”, com o apoio direto dos Black Spades renomeia a “Organization” para “Zulu Nation”. Inspirada em estudos sobre a história africana, sobre os quais Bambaataa ficou impressionado quando conheceu o povo “Zulu” e sua luta com honra por meio de armas simples contra o poder do colonizador inglês, apesar da aparente inferioridade; a Zulu Nation organizou festas e reuniões em que os membros, especialmente Bambaataa, tentou transmitir todo o Conhecimento sobre a Cultura produzida no Bronx, enquanto alternativa às atividades das gangues, à miséria e a droga. No ano seguinte a Zulu Nation, em caráter de uma gigantesca nação composta por jovens negros e latinos, fazendo jus ao seu próprio nome, conseguiu unir os três cantos do Bronx com o apoio dos DJs “Grandmaster Flash” e “Kool Herc” para oficializar o nascimento de um Movimento Cultural que transformaria por completo a vida daquela geração, influenciando outras tantas mundo à fora, o HIP-HOP. Mas isso é outro capítulo de uma outra fascinante história.
Paz e Respeito!
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Por: DJ “Zulu” TR.
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