Com o movimento de Exú e a inspiração de Oyá, o espetáculo De Mim Ecoaram Vozes narra e reconstroi a vida de mulheres periféricas que, com suas potencialidades, enfrentam os desafios do machismo e racismo presentes na sociedade brasileira. Criado e idealizado por integrantes do coletivo Mulheres ao Vento (MAV) e musicistas parceiras, o espetáculo estará em cartaz nas arenas Jovelina Pérola Negra, no dia 28 de julho, às 17h, e Dicró nos dias 01 e 02 de agosto, às 14h e 19h – com duas sessões diárias.
A proposta mostra que essas mulheres, mesmo com toda a insegurança que vivem em seus territórios, desenvolvem tecnologias de esperança e fortalecimento que têm a sua humanidade atacada cotidianamente, para entender cada vez mais sobre as complexidades da vida, do tempo, do fim, de tudo que contribuiu para o aqui e o agora, a coletividade que preserva a individualidade.
Segundo Simonne Alves, uma das fundadoras do MAV, as mulheres acolhidas no espaço são, em sua grande maioria, acima dos 40 anos e se dedicam ao autocuidado, e encontram a baixa oferta de atividades voltadas para esta faixa etária. “Durante esses anos, as mulheres vêm destacando os benefícios para a saúde física e mental que o MAV promove no cotidiano delas. Também destacam a prática de atividades físicas, as expressões artísticas da dança, música e teatro, juntamente com os processos de cura e empoderamento”, explica Simonne.
Andreza Jorge, também fundadora do MAV revela que os eventos e oficinas realizados no local são uma espécie de encontro de gerações, uma vez que mulheres de várias faixas etárias e de faixas etárias diferentes frequentam o espaço cotidianamente.
“Mulheres da terceira idade protagonizam nossos espetáculos artísticos, se apresentando em diversos teatros e espaços públicos, levando suas histórias para outros territórios e pessoas. Temos alunas de quase 80 anos em nosso núcleo, no Complexo da Maré, e também a presença de mulheres da mesma família, juntas nas aulas, o que evidencia a integração das participantes com os familiares”, afirma.
.
IMPACTO SOCIAL
Buscando sanar uma carência de atrativos para mulheres a partir dos 50 anos, o MAV já acolheu mais de 50 mulheres, oferecendo oficinas teórico-práticas de danças populares e afro, abordando os desafios diários da Maré, com atividades que discutem raça, gênero, classe e território, culminando anualmente em um espetáculo que integra histórias pessoais com expressões artísticas afro-brasileiras. Inspirado em Oyá, a deusa guerreira africana, o projeto fortalece e apoia mulheres de variadas trajetórias, elevando a autoestima e influenciando dinâmicas familiares.
“À medida que as mulheres compartilham situações traumáticas ou de violência, desenvolvemos estratégias para ressignificar narrativas, fortalecendo laços familiares com a participação nas aulas e apoio aos eventos. Essa abordagem amplia as temáticas trabalhadas, inspirando mulheres a manter sonhos vivos e buscar perspectivas de futuro para si e suas famílias”, pontua Simonne Alves.
Socialmente, homens são encorajados a manter conexões sociais fora da família, ocupando espaços públicos, enquanto mulheres são valorizadas por focar na família. Apesar do avanço na igualdade de gênero na mídia, a violência doméstica e feminicídio continuam, ressaltados por relatos de participantes que dedicaram suas vidas ao lar e aos outros.
“Essa proposta exerce uma influência significativa na promoção da arte, cultura, comunicação e conhecimento. Dentro do contexto do Mulheres ao Vento, testemunhamos várias alunas retomando os estudos e até buscando ingressar em universidades, enquanto outras obtiveram encaminhamento para o pré-vestibular social do projeto Redes da Maré”, celebra Andreza.
Um exemplo notável é o caso de Irenilda Silva (Sendy), cuja proposta “Lugar de Mulher” foi desenvolvida em colaboração com o Mulheres ao Vento. Essa proposta foi selecionada na “Chamada Pública: novas formas de fazer arte, cultura e comunicação nas favelas”, um edital proposto pela Redes da Maré em 2020, em plena pandemia de Covid-19.
“Essa conquista ilustra como nosso projeto não só estimula a criação artística, mas também a viabilizar em parceria com outras iniciativas culturais. Além disso, o projeto fotográfico ‘Ser mulher na Maré, construções do tempo e do vento’, desenvolvido por Dayana Sabany, teve um impacto internacional. Essa obra foi incorporada na exposição ‘Maré From The Inside’, apresentada no Festival de Arte Fringe em Edimburgo, Escócia, demonstrando como nossas atividades têm a capacidade de transcender fronteiras e alcançar um público global”, acrescenta.
“Esses exemplos reafirmam o poder transformador do Mulheres ao Vento, ao encorajar e possibilitar a produção artística, cultural, comunicativa e de conhecimento, tanto localmente quanto em âmbito internacional”, finaliza Andreza Jorge.
O projeto Mulheres ao Vento recebe alunas durante todo o ano, que também podem participar das aulas e produções do espetáculo.
.
SOBRE O MAV
Criado por Simonne Alves e Andreza Jorge, no ano de 2016, o Mulheres ao Vento (MAV) é um projeto de dança multilinguagem com inspiração afro-brasileira que percorre conteúdos que dialogam, através de uma metodologia teórico-prática, com o cotidiano de mulheres da Maré, temas como racismo, feminismos e suas lutas, violência de gênero, maternidade, ancestralidade, racismo religioso, entre outros.
Almejando produzir processos de desconstrução da imagem negativa de uma cultura que é sistematicamente aniquilada a partir de opressões estruturais, partindo de olhares decoloniais e plurais, o MAV acredita na possibilidade de realizar um projeto pensado exclusivamente para mulheres, a fim de construir um coletivo forte que contribua e corrobore com o aumento da autoestima e autoconfiança de suas participantes.
Através de estratégias pedagógicas que forneçam mecanismos para a produção contínua de movimento em todos os sentidos, o projeto estimula que as mulheres estejam sempre em movimento, com conteúdos que estão conectados e representados em suas trajetórias. Assim, para além de espetáculos artísticos, o MAV deseja construir processos a partir da vida cotidiana e da força que produz sentido para diversas mulheres. Todas essas apostas políticas e metodológicas se constroem tanto nas aulas quanto em cada uma das apresentações realizadas.
.
SERVIÇOS:
Espetáculo De Mim Ecoaram Vozes
28 de julho – Arena Jovelina Pérola Negra
Oficina “Danças de uma maré ancestral” – 14h às 15h / Espetáculo às 17h / Roda de conversa “Os desafios de se fazer arte na favela” às 18h
Endereço: Praça Ênio, s/n – Pavuna, Rio de Janeiro
1º e 2 de agosto – Arena Dicró, – sessões às 14h e 19h
Endereço: Parque Ari Barroso – Entrada pela, R. Flora Lôbo, s/n – Penha Circular, Rio de Janeiro
Entrada gratuita
.
-Alessandra Costa-
Assessoria de Imprensa e Comunicação
Foto de Capa: Dayana Sabany
@ Portal AL 2.0.2.4