Veja abaixo a Sinopse do enredo 2022 do Gres União do Parque Curicica.
Prefácio
A criação da boneca teve lugar em Jacarepaguá, entre o Jardim Boiúna e a Cidade de Deus, na cidade do Rio de Janeiro, por meio das mãos da artesã Lena Martins. Diante de referenciais lúdicos e formativos da cultura de matriz africana, a artista empreendeu dos retalhos uma “aura educativa” de construção social. As bonecas são, também, processo de articulação e socialização que conduz a uma variedade muito maior de produtos culturais. Ou seja, elas são capazes de dialogar e multiplicar variadas identidades socioculturais.
Sinopse
A.ba.yo.mi (termo em iorubá)
1.Encontro Precioso
2.Meu Presente
A Curicica abre o xirê
Com uma lenda de outro lugar!
Vinda do outro lado do mar!
Num encontro de mães e filhos
Entrelaçados por fios de resistência
Em retalhos, saberes e memórias
Yás resistem a tumbeiros
Com erês trançados tira a tira
Um presente, um encontro precioso
Da África com o Brasil
Do Rio de Janeiro com Jacarepaguá
Abençoados sejam os guias
Ìyàmì, Iyá-Mi Osorongá
Herança de Obàtál
Duas tiras de tecido (uma maior e outra mais curta)
Em cada ponta se faz um nó. Acolhedor
Depois dobra ao meio e se faz um terceiro nó,
Eis a cabeça e as pernas da boneca (o).
Mulher, preta, cafuza, rainha
Lavadeira, aguadeira
Homem, cheio de promessas
Rei de um cortejo ancestral
Que faz da morte folguedo sem igual
Lembranças d’onde somente um pano lhe pertencia.
A Abayomi de uma vida!
Alegria das crianças, semba pra erê
Dança pra saudar o orixá, de crioula
Obá Kongo, Omo-Aladé, Kalunga!
Um folclore de cores, de estamparias
Precioso encontro de ser (brasileiro)!
Bonecas criadas com carinho, amor
Feitas de nó, resistência…
Feito o samba, do nó na madeira.
Num “presente precioso”
Das tias, baianas, nossas yás
Para a Curicica:
Com bonecas de pano, guardadoras de lembranças.
Com lembranças, de bonecas de pano.
Justificativa
O próximo carnaval da União do Parque Curicica resgata uma história ancestral, e até então desconhecida. A região de Jacarepaguá foi o berço do nascimento das bonecas Abayomi, como relata a própria criadora delas, a artesã Lena Martins. A narrativa de sua criação remonta a um período marcado pela efervescência de movimentos sociais no país, nos anos 80, momento de redemocratização, debates em torno de uma nova Constituição e dos cem anos da Abolição da escravidão, em 1988.
A boneca negra de pano, sem costura ou cola, é feita de retalhos, tidos como restos. No rosto das bonecas, não há demarcação de olhos, nariz e boca, na tentativa de reconhecer as múltiplas etnias africanas. O rosto é excluído da composição, desfeito de modo deliberado e eminentemente político.
As Abayomi têm significado, têm religião, têm função social. Sua arte é uma forma de construção e reconstrução de lembranças, autoestima e identidade afro-brasileira. Cada nó de que são feitas as bonecas atam histórias de um povo escravizado e que, até hoje, sofre preconceito. Por isso, elas também ganham um caráter de objeto sagrado, por funcionar como expressão simbólica identitária. Elas representam situações cotidianas, traçam o axé dos orixás, o folclore e ritmos nacionais, e a emoção do precioso encontro de ser resistência.
As Abayomi são conhecidas nacional e internacionalmente, e são imediatamente identificadas como importante expressão da cultura afro-brasileira. Neste sentido, a Curicica traz ao público da Intendente Magalhães as bonecas Abayomi, um conjunto de símbolos que marcam a memória dos movimentos negros, marcadamente de mulheres negras, da região de Jacarepaguá, evidenciando sua importância histórica e cultural.
-Rafael Laurentino-
Pavilhão – Foto de Capa: Divulgação
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