Ele é uma das personalidades mais proeminentes da História do HIP-HOP, através da “Universal Zulu Nation”, organização creditada como o berço do nosso Movimento Cultural – fundada por Afrika Bambaataa – e acaba de lançar à poucos dias o videoclipe “Lord Yoda X Speaks”, faixa do seu mais novo EP “From The Mind Of Lord Yoda X”…
Senhoras e Senhores, este é Kenny “DJ Lord Yoda X” Syder, o ilustre entrevistado da minha humilde coluna.
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Quando jovem e ainda residindo no bairro do Bronx, em Nova York, Yoda testemunhou a manifestação das clássicas “Block Parties”, inspirando-se em ícones como Luvbug Starski, DJ Hollywood, Disco King Mario e o Amen-Rá da Cultura HIP-HOP Afrika Bambaataa. Filiou-se à Zulu Nation ainda na juventude, num período em que o HIP-HOP estava ultrapassando as fronteiras do Bronx. Sua família mudou-se para o bairro do Harlem, o lar da “Harlem Renaissance” – Movimento Cultural nascido na década de 1920, que valorizou a Arte e a Cultura Afro-americana, influenciando e revelando grandes nomes como Louis Armstrong, Duke Ellington, Bessie Smith, Fats Waller e Cab Calloway. No Herlem, Yoda se uniu ao amigo e então aspirante a DJ, Darryl C, e ambos se juntaram a outros jovens telentosos do complexo habitacional do Harlem… No final de 1977 nasce o grupo de RAP “Crash Crew”. Com o crescimento da popularidade do grupo, no final de 1979 e início de 1980, eles lançam o clássico “High Power RAP” pelo seu próprio selo musical, o Mike and Dave Records. Em 1981 o grupo assina com a “Sugar Hill Records”, creditada como a primeira gravadora da história a acreditar no RAP, e lança clássicos como “We Wanna Rock”, “Breaking Bells” e “On The Radio”. Pela Suga Hill, excursionaram por todos os EUA e Canadá.
Yoda também produziu a dupla de HIP-HOP do Harlem, “MC Rob Base and DJ EZ Rock”, famosa mundialmente mente pelo clássico “It Takes Two”, de 1988.
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E agora, em um momento em que o mundo clama por uma cura divina, para a erradicação do COVID-19, Lord Yoda X, nos concede uma fascinante entrevista falando sobre seu mais novo trabalho e trazendo curiosidades sobre as origens desse Movimento e como ele pode ajudar vidas num momento tão difícil…
“Acorda HIP-HOP!”
Veja abaixo a entrevista
DJ TR – Uma curiosidade: qual a origem do seu nome artístico?
Yoda – O nome começou como uma brincadeira. Em 1979, o “Crash Crew” estava fazendo um show em um local chamado “I.S. 201”, no Harlem. Era verão. Estava muito quente… Quando jovem, eu costumava ter erupções cutâneas. Meu rosto ficou cheio delas. Meu amigo Barry Bistro (do “Crash Crew”) disse: “o Kenny não tá a cara do Yoda do ‘Star Wars’?”. Todos riram e o apelido pegou.
DJ TR – Sua biografia cita que você testemunhou o surgimento das “Block Parties”. Você também esteve na apoteótica festa do DJ KOOL HERC em 11 de agosto de 1973?! Se esteve, como foi essa experiência?
Yoda – Infelizmente não. Eu era muito jovem e morava do outro lado do Bronx.
DJ TR – Ainda sobre a festa de KOOL HERC, muitos atribuem essa data como sendo o nascimento do HIP-HOP, enquanto a Zulu Nation orienta o Dia 12 de Novembro como a data oficial. O que você tem a dizer sobre isso?
Yoda – Kool Herc é tido como o primeiro a realizar uma festa de HIP-HOP, mas a foi a UZN que começou a organizá-lo e o batizou. “12 de novembro de 1973” é a data em que a UZN foi fundada. 12 de novembro de 1974 foi o primeiro aniversário da UZN e o início da Cultura HIP-HOP.
DJ TR – Sobre a Universal Zulu Nation, a história registra que ela foi fundamental na pacificação das “street gangs”. Como você explica o Bronx antes da UZN e depois de sua existência?
Yoda – Foi uma “soma de fatores”: a trégua celebrada no “Boys and Girls Club” [A Reunião de Paz da Avenida Hoe – um encontro importante das gangues da cidade de Nova York, em 8 de dezembro de 1971, no Bronx, propondo a Paz no Gueto] e o esforço de Afrika Bambaataa em organizar as pessoas que já se sentiam atraídas por aquela “coisa nova nas ruas”, chamada HIP-HOP. A UZN teve seu papel, mas foi necessário que as pessoas começassem a querer a Paz. Mas nem todo mundo queria… Alguns ainda queriam brigar. Então Bambaataa foi aos conjuntos habitacionais próximos e organizou todos/as que já freqüentavam as festas: os DJs, os B-Boys e alguns Grafiteiros. Ainda não havia muitos MCs. Bambaataa colocou tudo sob um mesmo “guarda-chuva”: a UZN. Os “Chapters” [Capítulos da UZN] começaram a se espalhar pelo Bronx e, em seguida, para os outros bairros.
DJ TR – No início os Zulus se reuniam na Adlai E. Stevenson High School, aonde também Afrika Bambaataa estudava. Por que a ideia de fundar a UZN em uma escola e como era a relação dos Zulus com a direção da instituição?
Yoda – Bambaataa estudava lá. Por isso ele começou a organizar as coisas lá mesmo. Depois ele levou suas iniciativas para os conjuntos habitacionais.
DJ TR – Quando você e sua família se mudaram para o Harlem, como estava o HIP-HOP naquele bairro, se comparado ao Bronx?
Yoda – Ainda era restrito, mas começando a se desenvolver. Os caras mais velhos que tinham equipamento eram basicamente DJs de “Disco Music”. Mas muitas fitas cassete já começavam a atravessar a ponte em direção ao Harlem. Em seguida, alguns dos grupos do Bronx passaram a fazer shows lá. O HIP-HOP estava começando a ter um rosto. Estávamos fazendo apresentações em centros comunitários, parques, escolas e festas.
DJ TR – De repente surge o Crash Crew… Fale um pouco sobre a experiência de formar um grupo de RAP com irmãos de outro bairro?
Yoda – O “Crash Crew” foi formado em 1977. Era um grupo de jovens de um conjunto habitacional chamado “Lincoln Houses” na 135th Street, no Harlem. DJ Darryl C e eu morávamos do outro lado da rua, no “Riverton Houses”. Nós jogávamos basquete, saíamos… Estávamos sempre juntos. Éramos 15 ao todo. Darryl C e eu pertencemos a um pequeno coletivo chamado “The Devine 9”. Todo conjunto habitacional tinha o seu. Darryl tinha os toca-discos em casa. Nós costumávamos praticar muito. Ele se tornou muito bom em mixagens. Já eu gostava de treinar performances. Ouviámos falar sobre as festas do Bronx. Estávamos sempre perguntando a Mike e Dave, que eram mais velhos que a gente e tinham equipamento, se poderíamos tocar com eles toda vez que eles iam se apresentar… Certa vez, eles deixaram! E nós agitamos a noite inteira! Foi assim que tudo começou.
DJ TR – O sucesso do Crash Crew os levou até a Sugar Hill Records, de Sylvia Robinson. Como foi estar diante de uma das mulheres mais importantes da história do HIP-HOP?
Yoda – Na virada de 1979 para 1980, o “Crash Crew” lança seu próprio single, chamado “High Powered Rap”, pelo selo Mike and Dave. Foi o primeiro selo independente do HIP-HOP, porque, antes disso, todos os lançamentos eram ou da “Enjoy Records” ou da “Sugar Hill Records”. A essa altura, o “Crash Crew” já fazia seus próprios shows. Mike e Dave eram os promotores. Estávamos viajando por Nova York, Nova Jersey e Connecticut. Shows sempre lotados. Um pouco depois, fomos chamados para a casa da Sra. Robinson, em Nova Jersey. Ela nos convida para assinar um contrato. O tempo na “Sugar Hill Records” foi duro. Foi lá que aprendemos a ser artistas. Antes da “Sugar Hill Records”, éramos apenas disciplinados… Mas lá eles tinham uma banda fixa, professor de canto, estilista e coreógrafo. Eles usavam a “fórmula Motown”.
DJ TR – Você teve a oportunidade de excursionar pelo mundo empunhando a bandeira do Real Espírito HIP-HOP. Como você analisa a nossa Cultura de hoje com o advento das redes sociais, se comparada ao início de tudo?
Yoda – As redes sociais conectam as pessoas. Naquela época, as filipetas, panfletos e cartazes faziam este papel. Hoje, são os smartphones. Quando o HIP-HOP passou a aparecer na televisão e no cinema, o público começou a ver o rosto das pessoas que ouvia nos discos… Como não havia clipes no início, ninguém nunca tinha nos visto até então.
DJ TR – Muitos HIP-HOPPERs colocam o RAP no banco dos réus, alegando este ser o grande causador da desunião dos demais Elementos da nossa Cultura. Você concorda com isso?
Yoda – Eu não concordo… Todo Elemento teve seu momento para estar em evidência. O DJ foi o começo da Cultura. Os selos tentaram substituí-los mas, em seguida, o “Turntablism” [arte de manipular sons e criar músicas usando o turntable (toca-discos) e um mixer] trouxe a Cultura do DJ de volta. Depois os B-Boys se tornaram protagonistas. Quando começaram a desaparecer, filmes como “Wild Style” e “Beat Street” colocaram a dança novamente em destaque. Os MCs passaram a aparecer mais e a indústria viu nisto uma oportunidade para ganhar dinheiro… Mas todos os elementos tiveram seu tempo para brilhar.
DJ TR – Em seu mais novo EP, “Lord Yoda X Speaks” se tornou uma das faixas principais, que originou um vídeoclipe. Fale um pouco sobre sua intenção com este novo trabalho?
Yoda – Acabei de lançar um single chamado “Lord Yoda X Speaks”. Eu senti que era hora de trazer de volta um pouco do “Quinto Elemento do HIP-HOP”, que é o Conhecimento. Há muito tempo, não se fala mais a respeito de coisas reais… Todo mundo só quer curtir, beber, festejar, brigar… Então, senti que estava na hora de minha voz ser ouvida novamente. Tive a honra de palestrar em vários lugares do mundo, então senti que era a hora de novo… O EP se chama “From the mind of Lord Yoda X”. Ele será lançado em todas as plataformas em duas semanas, mas o primeiro single será lançado no iTunes, Amazon Music, Tidal, Spotify, Iheart Radio e YouTube. Acabei de gravar e postar o primeiro vídeo há alguns dias. Está no YouTube. Por favor, curtam o nosso canal! Este EP será lançado pelo meu próprio selo: “Free Dome 7 Entertainment / FONYE Records”.
DJ TR – Nesse momento em que o mundo clama por cura diante desse mal chamado COVID-19, como o HIP-HOP pode colaborar com a humanidade?
Yoda – O verdadeiro HIP-HOP está sempre pronto para ajudar a humanidade. No momento, precisamos manter a criatividade e continuar nos comunicando uns com os outros. As pessoas estão sofrendo. Então, se a sua arte pode levar alegria para algumas pessoas, então você fez o seu trabalho… Temos que continuar alcançando as pessoas, não importa o quão ruim a situação seja. Nós não podemos desistir
DJ TR – Existe algum projeto de Lord Yoda X para 2021?
Yoda – Tenho um documentário que será lançado em breve chamado “The True Harlem HIP-HOP Story: Mike and Dave”, sobre os primórdios do HIP-HOP. Também um livro chamado “When it was fun: from rags to riches to O.K.”. Estou produzindo alguns mini-documentários também. Quando o período de quarentena acabar, mal posso esperar para voltar à estrada com Rob Base, Bambaataa ou com meu trabalho solo. Continuo na “Free Dome Radio” às Sextas de 20 a 23h [Horário de Brasília] e Domingos das 20 às 22h [Horário de Brasília] em www.fonyenetwork.com. E também na “True School Radio” às Terças de 21 a 1h [Horário de Brasília] em www.streetwireradio.com.
DJ TR – Qual conselho você daria para o jovem de hoje, que muitas vezes se sente auto-suficiente, se tornando resistente à OLD SCHOOL do HIP-HOP?
Yoda – Apenas mantenha a mente aberta. Não há futuro sem passado. Nós apenas precisamos conversar mais entre nós. Quanto mais nos comunicamos, mais ficamos próximos uns dos outros. E perceberemos o quanto nós todos temos em comum.
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Colunista / Escritor e Pesquisador da Cultura Black: DJ Zulu TR
Muito bom passar informações que ajudem a resgatar para os mais jovens o histórico de alguém que realmente é fato perante qualquer argumento de contestação.
Parabéns DJ TR, existe em vc uma grande sabedoria quanto ao movimento que te abraçou correspondendo ao seu fraterno abraço.
Sucesso!
Obrigado DJ TR por mais uma lição de aprendizagem em forma de entrevista.