Por: Profº. Drº. Babalawô Ivanir dos Santos – Professor e orientador no PPGHC/UFRJ e Profa. Dra. Mariana Gino – Secrétaire Générale du Centre International Joseph Ki-Zerbo pour l’Afrique et sa Diaspora/N’an laara an saara. (CIJKAD-NLAS)
Mais uma vez presenciamos no Big Brother Brasil, edição 23, uma cena de intolerância religiosa. Em questão, três participantes falam com preconceito e intolerância sobre a religião do Dr. Fred Nicácio, que já falou diversas vezes sobre o candomblé, seu segmento religioso O caso em questão não está distante das realidades encaradas por boa parte dos adeptos das religiões de matrizes africanas. Mas antes precisamos pontuar e rememorar que intolerância religiosa é crime! Mas aí vocês podem, de forma indireta, dizer “Ué? mas não houve agressão!” e eu lhes responderia que “sim” indiretamente não aconteceu uma agressão direta, entretanto é aí, nas agressões indireta, que as intolerâncias cotidianas são gestadas, reatualizadas e proferidas naturalmente assim como o racismo cotidiano.
A repulsa, o medo e a ligação das religiões de matrizes africanas rememora um período da História do Brasil em que a liberdade religiosa não era uma realidade para os adeptos das religiões de matrizes africanas. Além de configurar um desconhecimento das práticas religiosas de matrizes africanas, também remontam todo um passado colonial de preconceito e ignorância sobre as práticas espirituais cotidianas das pessoas africanas em África e em diasporá forçada, para as Américas e para a Europa, na condição de escravizados.
Infielmente a intolerância religiosa, assim como o racismo, estão entranhadaa nas nossas relações sociais cotidianas, culturais políticas e econômicas, e é ela, a intolerância, que vem se apresentando como um dos nossos maiores desafios contemporâneos diante das possibilidades para a promoção e o fortalecimento das tolerâncias e das equidades religiosas. Como bem podemos constatar, através das narrativas e dos fatos históricos, somos educados, desde a primeira infância, dentro das construções coloniais que impossibilita qualquer construções voltadas para as diversidades, para a equidade e para as tolerâncias. Destarte, o preconceito, a discriminação e a intolerância religiosa continuam sendo fator recorrente na história das religiões na sociedade brasileira desde o período colonial, mesmo por parte de pessoas engajadas nas lutas antirracismo.
Pois a prática da intolerância religiosa, enquanto produto e herança do colonialismo europeu no Brasil, pressupõem uma superioridade religiosa que não está necessariamente ligada à cor da pele, mas sim à espiritual e cultural. Queremos aqui terminar a nossa brevíssima análise chamando a atenção para ao fato de que independe das nossas confissões e pertenças religiosas precisamos assumir a luta contra a intolerância religiosa e contra o racismo como um compromisso em prol das liberdades, das diversidades e do Estado laico, pois a intolerância religiosa, assim como o racismo, é um mecanismo de exclusão.
“Enquanto houver intolerância religiosa e racismo, não haverá democracia. Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, ou por sua origem, ou sua religião. Para odiar, as pessoas precisam
aprender, e se elas aprendem a odiar, podem ser ensinadas a amar, pois o amor chega mais naturalmente ao coração humano do que o seu oposto. A bondade humana é uma chama que pode ser oculta, jamais extinta” Long Walk to Freedom, Nelson Mandela (1995).
-Rozangela Silva-
Assessoria de Imprensa
Ivanir dos Santos (Foto: Brunno Rodrigues) e Mariana Gino (Foto: Divulgação)
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