A indústria têxtil é a segunda maior indústria de transformação em números de trabalhadores no Brasil. O setor tem um papel social importante ao empregar mulheres, muitas delas mães, que são responsáveis pelo sustento do orçamento familiar. Contudo, o setor enfrenta desafios globais, em especial, na questão ambiental, pois, em média, cerca de 20% dos tecidos utilizados para a confecção de peças de vestuário se transformam em resíduos.
Segundo João Carlos Oleksinski de Andrades, diretor da Libértecce, a indústria têxtil brasileira produz mais de 200 mil toneladas de resíduos por ano, sendo 70% resíduos sintéticos – poliamida e poliéster -, que são descartados, em parte, de forma incorreta. “Por isso, temos uma grande oportunidade no sentido de atender os consumidores cada vez mais conscientes das questões ambientais ao transformar esse resíduo em matéria-prima”, enfatizou Andrades, durante o BW Works SENAI – Empresas Inovadoras, uma iniciativa do Movimento BW, com o apoio do SENAI, transmitido no dia 31 de maio, com apresentação de Luís Gustavo Delmont, especialista em desenvolvimento industrial no SENAI Nacional.
Nesse sentido, a Libértecce desenvolveu uma solução para transformar resíduos sintéticos em matérias-primas, que podem ser reutilizadas nas indústrias têxtil, calçadista, moveleira, automotiva e de plásticos, na fabricação de armações de óculos e na geração de energia. Essa solução foi criada em parceria com o Instituto SENAI de Inovação em Engenharia de Polímeros. “Um dos desafios desse processo é o tempo de geração deste resíduo estar alinhado ao consumo da matéria-prima pela indústria. Não podemos fazer todo o processamento para o material não ser utilizado”, explicou Andrades, que tratou do tema Economia Circular na Moda no evento online.
A primeira possibilidade de uso da solução é na área de madeira plástica, que aceita resíduos mistos. Esse material pode ser usado para fabricação de cabos, telhas, pavers, bancos, painéis decorativos. Os resíduos de poliamida e poliéster também podem ser transformados em pellets para injeção de peças plásticas, como cabides, alavancas de cadeira e peças para máquinas agrícolas, para produzir componentes para calçados e acessórios e até lacres de segurança. Andrades afirmou que o material possui qualidade, durabilidade e resistência, podendo ainda ser leves, no caso de armação para óculos.
O diretor da Libérteece adiantou que estão em desenvolvimento a transformação dos resíduos de poliéster em pellets para extrusão de um novo fio/filamento. “É uma tecnologia muito promissora para a indústria têxtil”, pontuou. A empresa conseguiu também realizar a reciclagem mecânica de elastano junto com outras fibras. “O algodão e o poliéster, por exemplo, não possuem as características de elasticidade do elastano, mas conseguimos manter as propriedades do elastano”, celebrou. A matéria-prima pode ser usada para fabricação de peças de inverno, para produção de malharia retilínea, para fabricação de bolsas, coletes e utilitários.
Outra tecnologia apresentada foi a geração de energia pela própria indústria, através da gaseificação. A partir do uso de pequenos tecidos, etiquetas e elásticos que sobram das máquinas de costuras, as indústrias de menor porte, principalmente, poderão alimentar o motor que gera energia elétrica com o gás combustível vindo do processo.
Andrades reiterou que a tecnologia possui ótima eficiência térmica, com produção de energia entre 25 e 70 kW. Para se ter uma ideia, 70 kW equivalem a 100 cv, que são suficientes para operar 200 máquinas de costura. “A tecnologia precisa de 7 kg de resíduo por hora para atingir 800°C, transformando o sólido em gás combustível. As indústrias poderão usar ainda essa energia no tingimento, que trabalha também com calor”. Para isso, a solução será colocada em um contêiner com um módulo gaseificador. A empresa ainda está testando a tecnologia em outras áreas geradoras de resíduos, como plásticos e borracha.
O Movimento BW é uma iniciativa da Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração (Sobratema) e procura estimular o uso de inovação e tecnologia para o desenvolvimento de novos produtos, soluções e serviços sustentáveis, que reduzam a pegada ambiental das atividades humanas. Por isso, lançou, com o apoio do SENAI, por meio dos Institutos SENAI de Inovação e de Tecnologia, a nova série BW Works SENAI – Empresas Inovadoras neste mês de maio.
O BW Works SENAI – Empresas Inovadoras contará com dez episódios que retratarão cases desenvolvidos pela indústria, em parceria com o SENAI. Esses projetos englobam segmentos como agronegócio, têxtil, alimentício, farmacológico, cosmético, de vidro, de filtros, de combustíveis renováveis, e foram realizados em diversas regiões do país: Centro-Oeste, Nordeste, Sudeste e Sul.
Institutos SENAI de Inovação
A inovação é parte estratégica para alcançar os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) definidos pela Organização das Nações Unidas (ONU). Um dos instrumentos para fomentar Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) em direção a soluções mais sustentáveis é a rede de Institutos SENAI de Inovação, com abrangência em todo o país.
Na última década, os 28 Institutos formaram uma equipe de 1.027 colaboradores (sendo 47% com mestrado ou doutorado) responsáveis pela execução de mais de R$ 1,9 bilhão, destinados a mais de 1.930 projetos. Todos desenvolvidos em parceria com cerca de 860 empresas industriais.
A rede foi criada para atender as demandas da indústria nacional. Ela tem como foco de atuação a pesquisa aplicada, o emprego do conhecimento de forma prática, no desenvolvimento de novos produtos e soluções customizadas para as empresas ou de ideias que geram oportunidades de negócios. Os institutos trabalham em conjunto, formando uma rede multidisciplinar e complementar, entre si e em parceria com a academia, com atendimento em todo o território nacional.
Institutos SENAI de Tecnologia
Aliados ao desenvolvimento industrial, os 60 Institutos SENAI de Tecnologia oferecem serviços de metrologia e de consultoria que tem soluções para reduzir desperdícios e impactos nas práticas produtivas e na produtividade. A rede conta com equipe de 1,3 mil consultores capacitados em metodologias padronizadas e testadas, conectados em rede nacional para atendimento de demandas setoriais. Em 2022, foram executados 2,1 milhões de ensaios nos 232 laboratórios de serviços metrológicos em atividade.
-Mecânica Comunicação Estratégica-
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