No jogo eletrônico, o usuário é um “proprietário de escravos”, que estava disponível até o início da tarde desta quarta-feira (24). O absurdo era oferecido em tempos atuais, onde o racismo vem sendo debatido amplamente.
A proposta do jogo permitia que o usuário pudesse simular ser um senhor de escravos, estimulando a contratação de guardas “feitores” para evitar rebelião, além de poder garantir lucros com as etapas. Outro grave absurdo é a opção para que o jogador possa explorar sexualmente seu escravo. Ou seja, conteúdo ofensivo, promovendo violência simbólica, afrontamento aos direitos humanos e discriminação racial.
Militantes e lideranças do movimento negro reagiram com indignação. Para o Prof. Dr. Babalawô Ivanir dos Santos (Professor e orientador no PPGHC da UFRJ e Fundador do CEAP – Centro de Articulação de Populações Marginalizadas). “É inadmissível que a história da escravidão seja veiculada como um jogo de diversão. A Escravidão foi e ainda é uma das maiores hecatombe sobre a humanidade”
Corroborando com Ivanir, a Profa. Dra. Mariana Gino (Professora no Departamento de Ciência Política da UFRJ e Secretaria Executiva Adjunta do CEAP) pontuou que “O jogo ‘Simulador de Escravidão” além é mais uma das provas de como o racismo molda a sociedade contemporânea, colocando questão sérias, como a escravidão de pessoas negras, como uma prática de diversão. A pergunta que precisamos fazer é ‘Quem lucra com esses jogos?’, ou ainda ‘Qual a finalidade, senão reproduzir uma das práticas mais deploráveis sobre a humanidade?”.
O jogo virtual, oferecia inclusive algumas opções da dinâmica do jogo, entre elas agredir e torturar o ‘escravo’. O desenvolvedor é assinado pela Magnus Games e tinha pouco mais de mil downloads além de 70 avaliações. Ao entrar no jogo, era possível ver imagens de pessoas acorrentadas, além de um homem negro coberto de grilhões. Na apresentação, uma gravura histórica retrata um homem branco, com trajes alinhados, lado a lado de um outro homem, mas sendo um negro escravizado e com poucas vestes, alusivo aos livros históricos que retratam a escravidão.
A produtora do game, incluiu na plataforma que o “jogo foi criado para fins de entretenimento” e que condena a escravidão no mundo real (acredite, escreveram assim). O jogo ainda está no sistema de aplicativos do Google, mas ao tentar agora, o usuário não consegue baixar o aplicativo. Mas quem já tinha o app no smartphone, ainda consegue jogar.
Como um jogo com esse é permitido, liberado para uso?
“O jogador vive uma experiência colonial, tem uma postura colonial. Ser colonial significa introjetar o pensamento do colonizador, numa sociedade fruto da escravidão e que tem por sequelas o racismo é arriscado permitir que pessoas venham a assumir pensamentos coloniais que tem por ligação a ideologia racista. O fato de termos sido colonizados e insistirmos em refletir pela lógica do colonizador, nos faz ter uma postura colonial”, pontua Lavini Castro Doutoranda em História Comparada UFRJ. Idealizadora e Coordenadora da Rede de Professores Antirracistas.
O racismo assombra a população negra há séculos e ainda assim, colaboradores, criadores, empresas e usuários se divertem com um assunto tão grotesco e infame. A missão, reação, ações, demandas e afins deveriam ser para o enfrentamento à exclusão social e desigualdades. A discussão racial está atrasada, muito atrasada.
-Rozangela Silva-
Assessoria de Imprensa
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