Dias 12, 13 e 14 de setembro no Teatro Sylvio Monteiro – com entrada gratuita
Com atores deficientes visuais, o espetáculo acontece completamente no escuro e público precisa entender a trama com o que lhes é oferecido
Nos dias 12, 13 e 14 de setembro, o público de Nova Iguaçu terá a chance de passar por uma experiência diferente e inclusiva: o espetáculo “Clarear – Somos todos diferentes” , da Companhia de Teatro Cego – uma peça de teatro em que os atores são portadores de deficiência visual, e, através de aromas, música e sensações táteis, entram na história através dos outros sentidos (olfato, paladar, tato e audição). Com entrada gratuita, o espetáculo de 40 minutos, será apresentado em dois horários, 15h (para alunos de escolas da região) e 20h (para o público em geral), no Teatro Sylvio Monteiro (Rua Getúlio Vargas 51 – Centro).
“O processo de criação do Teatro Cego é todo baseado na desconstrução de personagens e espaços. E essa reconstrução é feita a cada espetáculo, diante do público”, adianta o diretor Paulo Palado.
Sobre o espetáculo “Clarear – Somos todos diferentes”
Com texto de Sara Bentes, direção de Paulo Palado e elenco formado por Luma Sanches, Ghell Silva e Paulo Palado, “Clarear – Somos todos diferentes” é uma peça leve e bem-humorada que vai mexer com a sensibilidade dos alunos. Nesta montagem, além das experiências sensoriais, o tema também é totalmente voltado para a questão da integração. Cinco jovens dividem a mesma república. Uma deficiente visual, um deficiente auditivo, uma cadeirante, um argentino e uma torcedora fanática de um pequeno time local (em cada cidade será nomeado o time para qual ela torce). Com muito bom humor, a trama mostra a superação de dificuldades de comunicação e convivência, através da sinergia da amizade, em um espetáculo de 40 minutos que conquista a plateia com um paradoxo entre a complexidade e a simplicidade do tema.
O que é o Teatro Cego?
Desde 2012, a C-Três Projetos Culturais vem desenvolvendo o Teatro Cego, um formato teatral onde a peça acontece completamente no escuro, proporcionando, através da arte e do entretenimento, uma experiência única ao público, convidando-o a abdicar da visão e a compreender a trama através de seus outros sentidos (olfato, paladar, tato e audição), utilizando-se de aromas, música e sensações táteis.
A peça teatral tem em seu elenco atores com deficiência visual, cumprindo, assim, um papel social através da arte. Porém, para que haja uma integração, o elenco nunca é formado só por atores com deficiência visual.
Os espetáculos ”O Grande Viúvo”, ”Acorda, Amor!” e ”Um Outro Olhar” emocionaram espectadores em vários teatros do Brasil e tornaram-se grandes sucessos de público e de crítica.
O que é o projeto?
O projeto Clarear Para a Juventude é muito mais do que simplesmente uma temporada de um espetáculo teatral. O objetivo é criar um verdadeiro ciclo social e cultural, organizando debates com o intuito de discutir com o público presente nas apresentações teatrais, soluções para questões como acessibilidade e inclusão social, já que o espetáculo CLAREAR trata exatamente de questões que envolvem temas ligados à experiências sensoriais, sendo totalmente voltado para a integração entre as pessoas. O projeto está sendo realizado através da Lei Rouanet, com patrocínio da NTS.
No local, os jovens serão recepcionados por monitores. Após cada uma das apresentações, na completa escuridão, acontecerá uma palestra seguida de uma roda de bate-papo, onde o público, privado da visão, vai participar de um debate com os artistas e produtores do espetáculo, e também entre si, surgirão questões como a inserção de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, acessibilidade em locais públicos para cegos, deficientes auditivos e cadeirantes, políticas públicas voltadas ao bem-estar de portadores de necessidades especiais, entre outras.
“O propósito é fazer com que surjam, através desses debates, novas ideias e possibilidades que possam vir a ser colocadas em prática, com o intuito de criar novas expectativas e possibilidades às pessoas com deficiências”, reflete o diretor Paulo Palado.
Companhia de Teatro Cego
A Companhia de Teatro Cego surgiu no Brasil em 2012. O formato foi originalmente criado em Córdoba, na Argentina, em 1990. Em 2010, o ator e diretor Paulo Palado esteve em Buenos Aires para conhecer o formato e decidiu trazer a ideia para o Brasil. Porém, não existe nenhum vínculo – a não ser o de amizade – com o Teatro Ciego argentino. A ideia é fazer espetáculos teatrais completamente no escuro, convidando o público a abdicar da visão e a usar os seus outros quatro sentidos, além da intuição, para assistir à peça. Para isso, sons, vozes, aromas e sensações táteis são utilizados para colocar o público dentro da trama. O formato de apresentação também não é o tradicional. A plateia é distribuída em cadeiras que intercalam cenários e objetos de cena e o público tem uma proximidade muito grande com os atores, que circulam entre as cadeiras. Por acontecer completamente no escuro, a peça conta com alguns atores com deficiência visual. Porém, a ideia é que nenhum espetáculo aconteça somente com esses atores, mas sim, que haja sempre uma integração com atores videntes.
A Companhia de Teatro Cego é uma parceria entre o ator e diretor Paulo Palado e o produtor cultural Luiz Mel e conta ainda com os produtores Lourdes Rocha e Carlos Righi. Os atores da companhia, com deficiência visual, são Sara Bentes, Edgard Jacques, Luma Sanches, Giovanna Maira e Ghell Silva. Os atores videntes são Ana Righi, Flávia Strongolli, Ian Noppeney, Leonardo Santiago, Manoel Lima e Paulo Palado. A companhia ainda é formada pelos produtores responsáveis pela contrarregragem e efeitos, Zan Martins e Rosana Antão e pelo sonoplasta Luiz Jurado.
Os Espetáculos
O primeiro espetáculo da companhia, “O Grande Viúvo”, estreou no Teatro TucaArena em 2012, com texto de Paulo Palado, adaptando o conto homônimo de Nelson Rodrigues. Em 2014, a companhia estreou sua segunda peça, “Acorda, Amor!”. Esse espetáculo é costurado por canções de Chico Buarque executadas ao vivo pela banda Social Samba Fino, composta por sete músicos. Em 2016, a companhia estreou a peça “Clarear – Somos Todos Diferentes”, com texto de Sara Bentes, que também é atriz em todas as peças. O espetáculo fala sobre cinco jovens com diferentes características (uma garota com deficiência visual, um rapaz com deficiência auditiva, uma cadeirante, um argentino e uma torcedora fanática de um pequeno time de futebol) que dividem a mesma república. Em 2022, a companhia estreou o espetáculo “Um Outro Olhar’’, que conta a história de uma empregada doméstica e sua patroa que passam, ao mesmo tempo, por um tratamento contra o câncer. Todas as peças da companhia são dirigidas por Paulo Palado e produzidas pela C-Três Projetos Culturais.
Parceiros
Durante esses onze anos de atividades, a Companhia de Teatro Cego trabalhou em parceria com diversas instituições. Entre elas, o BOS – Banco de Olhos de Sorocaba, Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo, Laramara (Associação Brasileira de Assistência à Pessoa com Deficiência Visual), Fundação Dorina Nowill para Cegos e Cabelegria (ONG que recebe doação de cabelos e fabrica perucas que são doadas principalmente para mulheres que perderam seus cabelos durante o tratamento quimioterápico).
O Processo de Criação
A criação parte sempre do texto. Dos quatro textos montados até agora, três são de Paulo Palado e um de Sara Bentes e já são escritos pensando no Teatro Cego, pois as falas dão indicação de muitos elementos e situações que o espectador não conseguiria identificar sem a visão. O espaço para sons e aromas muito característicos também é priorizado para que a produção possa atuar de forma consistente durante o espetáculo. Porém, tudo isso é feito de maneira que não haja exagero. Não se pode permitir que os meios justifiquem os fins.
A ocupação do espaço também é uma preocupação que vem logo no início do processo. A trama tem que ser encenada sempre no mesmo lugar, pois os espectadores estão sentados em suas cadeiras junto com os cenários. As mudanças de cenas são feitas através de músicas e ou aromas. Uma mesma música é repetida sempre que a cena volta para um mesmo cenário. O mesmo pode acontecer com um aroma. O cenário, apesar da escuridão, é de extrema importância para a compreensão do espaço. Portas, armários, mesas, cadeiras, escadas, louça, talheres, camas. Os objetos cenográficos se mostram presentes através de seus sons ou por simples citação dos personagens.
Uma característica muito importante do espaço cênico é a forma da sua apresentação. Ao contrário de uma peça convencional, onde o espectador vê primeiro o cenário, que depois vai sendo preenchido por movimento e vida, no Teatro Cego tudo começa em uma escuridão profunda e total. Após a entrada dos atores, com a movimentação e utilização dos espaços, é que o cenário vai se revelando. Os espetáculos são sempre compostos por atores com deficiência visual e atores videntes. A ideia é integrar. Imagine ter que criar um acesso a cadeirantes para um andar acima do piso térreo. Não cadeirantes podem subir facilmente pela escada. Então cria-se um elevador para as pessoas com deficiência física. Isso é acessibilidade. Porém, uma rampa serviria muito bem aos dois públicos. Isso é integração.
O processo de criação dos personagens começa com a leitura branca do texto em uma mesa, como em qualquer outra montagem convencional. Enquanto alguns atores se utilizam do tradicional texto no papel, riscado com lápis e grifado com marca-texto, outros leem em braile. Outros ainda contam com aplicativos leitores de tela em um celular ligado ao ouvido por um fone e falam por cima do que ouvem. É como um ponto. Entre essas leituras, os atores e o diretor praticam exercícios de cognição, criando conexões entre os personagens através de códigos inconscientes. Isso ajuda a desconstruir a comunicação rasa que utilizamos na maior parte do tempo e desfaz alguns vícios, tanto de expressão quanto de compreensão.
Os ensaios vão então para um espaço demarcado, determinando os locais de cenografia e público. Algumas marcas são colocadas para guiar os atores. O cenário será uma das referências. Em alguns locais, o piso tátil é usado. Os atores com deficiência se locomovem, a princípio, com bengalas (guias) ou com a ajuda da produção. Quando o espaço é completamente dominado, apagam-se as luzes e retiram-se as bengalas dos atores com deficiência. Enquanto isso, a produção está pesquisando aromas e sons. Quando os cenários são montados, junta-se tudo nos ensaios finais.
Clarear – Teatro Cego é um projeto da C-Três Projetos Culturais com patrocínio da NTS, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
Serviço
Teatro Cego apresenta:
Espetáculo “Clarear – Somos todos diferentes”
– Dias 12, 13 e 14/9 em Nova Iguaçu
Teatro Sylvio Monteiro (Rua Getúlio Vargas 51 – Centro)
Horários: 15h (para alunos de escolas da região) e 20h (para o público em geral)
Entrada gratuita
-Alexandre Aquino-
Assessoria de Imprensa
Foto de Capa: Teatro Cego / Divulgação
@ Portal AL 2.0.2.3