No dia em que encontrou Moacyr Luz no bairro da Alfama, centro de Lisboa, Pierre Aderne tinha recebido pela manhã um cavaquinho vindo do Rio de Janeiro, cidade natal do primeiro e de adoção do segundo. “Contei para ele que quando o toquei pela primeira vez, parecia que tinha vindo com uma melodia dentro”, conta Pierre. “Aí o Moa disse: ‘Posso escrever a letra?’. Eu já tinha escrito, mas respondi sem titubear: ‘Claro, parceiro’. Só para não perder a parceria.”
Do encontro nasceu a ponte que liga os dois países por meio da música. O disco “Mapa dos Rios” – que teve o primeiro single, “Prado Junior”, lançado no dia 10 de maio – foi disponibilizado hoje, dia 26 de maio, em todas as plataformas digitais, pelo selo Mestre Sala / The Orchard. Gravado entre Lisboa e o Rio de Janeiro, o álbum traz 11 inéditas parcerias dos criadores dos movimentos mais importantes da música contemporânea cada qual em seu continente. Moacyr com sua roda tradicionalíssima, “Samba do Trabalhador”, às segundas, no Andaraí, Rio de Janeiro. Pierre Aderne com o “Rua das Pretas”, que promove desde Lisboa a fusão da música brasileira com portuguesa e da África lusófona.
Ouça o álbum: https://orcd.co/mapadosrios
Assista ao making of do álbum: https://youtu.be/YtOIPvn55BY
Duas vias entre Rio e Lisboa foram abertas a partir do primeiro encontro. Pierre geralmente enviava letras, Moacyr Luz as musicava e quando perceberam tinham material para o disco que lançam em dupla. “Foi como se compuséssemos para um filme, em que a sinopse é recordar o passado vivido nos bairros, lembrar de personagens, de endereços em que moramos – um álbum de família num porta-retratos com música incluída”, diz Pierre. “Os arranjos são enxutos, íntimos e ao mesmo tempo com o vigor de sambas, de canções. A gente fez música para se curtir. Eu estou na idade de me curtir”, completa Moacyr.
Tempere com os ingredientes de composições de Moacyr para Zeca Pagodinho, Maria Bethânia, Beth Carvalho e Martinho da Vila. Some com as parcerias de Pierre com Seu Jorge, Wagner Tiso, Flavio Venturini e Madeleine Peyroux. Assim talvez chegue perto de vislumbrar o que a dupla gravou entre fevereiro e novembro de 2022, em Lisboa.
“De alguma forma a Rua Das Pretas e o Samba Do Trabalhador são a tradução desse movimento musical mestiço, que nasce da comunhão do samba, do fado, das mornas (ritmo de Cabo Verde). Juntando sotaques de uma cultura que pertence a todos que falam português, onde a alegria é um projeto de sociedade”, diz Pierre. “Trato como predestinação. Compusemos dez músicas e trocamos mil dúvidas até florescer nesse álbum. Eu sou um cara que vem do subúrbio; ele, da Zona Sul. Temos as mesmas angústias e descobrimos uma afinidade impressionante através da música”, completa Moacyr.
As músicas, compostas por Moa e Pierre, tem as duas cidades como inspiração. Memórias dos bairros, personagens e ruas. Uma crónica musical de um Rio de Janeiro Lisboeta, de uma Lisboa que tem o Rio de Janeiro no imaginário.
“Meu sobrenome Luz vem do meu bisavô português Manoel. Estar em Lisboa me traz uma sensação de andar dentro de mim, reconhecendo a ladeira que tem sido a minha vida…A surpresa, vindo na maré do Tejo, inventou um cais para eu poder encontrar meu parceiro Pierre Aderne, brasileiro de Copacabana, mas com as costas cravejadas de amêijoas da terrinha. A conversa se estendeu pelo Atlântico, (entre o Rio de Janeiro e Lisboa), os radares em sintonia perfeita, que eu trato como predestinação. Compusemos dez músicas durante a primavera lusitana, trocamos mil dúvidas até florescer nesse álbum. O passado aos pés do futuro “, conta Moacyr.
“O mestre Ian Guest, que nos deixou recentemente, dizia: A criança sabe, porque não sabe que não sabe…Quando penso em compor com Moa, faço música sem pensar, por pura intuição, como fazem as crianças sem saber. Nossas músicas são retratos de um álbum de família ainda em gestação”, completa Pierre.
E, afinal, onde pretendem chegar com essa jornada musical e cultural que conceberam? “que a escuta das canções faça tão bem aos outros, quanto nos fez o processo de criação” (Pierre).“A manutenção da espécie chamada música“ (Moa).
Moacyr Luz e Pierre Aderne estiveram juntos, em maio de 2022, no palco no Coliseu Dos Recreios — principal palco da música em Portugal — onde a Rua Das Pretas esteve 11 vezes nos últimos dois anos, criando uma série para RTP1. Colocaram em estreia temas inéditos do novo álbum como “Prado Junior”, “Santo de Mãe” e “Vidigal – Cais do Sodré”, além cantarem sucessos compostos por Moacyr para outros artistas, como “Medalha de São Jorge” (Maria Bethânia), “Cabô, meu pai” (Bete Carvalho) “Vida Da Minha Vida” (Zeca Pagodinho) e outras compostas por Pierre Aderne como “Guia” e “Mina Do Condomínio”, respectivamente para Seu Jorge e António Zambujo.
Sobre Moacyr Luz é um dos maiores nomes do samba contemporâneo, criador do icônico Samba Do Trabalhador, parceiro de Aldir Blanc, gravado por grandes artistas da música brasileira como: Zeca Pagodinho, Beth Carvalho, Maria Bethânia, Martinho da vila, Fafá de Belém, além de ser o autor do samba enredo da mangueira de 2022, gravado recentemente em dueto com Chico Buarque.
Sobre Pierre Aderne é fundador da Rua Das Pretas, que vem há 12 anos promovendo a aproximação e fusão da música brasileira com a música portuguesa e da África lusófona. Fez duetos e compôs para artistas como: Seu Jorge, António Zambujo, Tito Paris, Jorge Palma, Sara Tavares, Cuca Roseta, Gisela João, Flavio Venturini, Wagner Tiso, Melody Gardot, Madeleine Peyroux, Mário Laginha, Gisela João entre tantos outros.
FICHA TÉCNICA
Gravado entre Lisboa e o Rio De Janeiro, entre fevereiro de 2022 e maio de 2023
Todas as músicas foram escritas por Moacyr Luz e Pierre Aderne
Estúdio Namouche e Valentim De Carvalho – Lisboa
Estúdio Rockit – Rio De Janeiro
Estúdio Arda Recorders – Porto
Mixado e masterizado por Carlos Fuchs
Produzido por Pierre Aderne e Moacyr Luz
Foto Capa: AF Rodrigues
Projeto Gráfico: Victor Hugo Cecatto
Músicos:
Moacyr Luz – vozes e violão
Pierre Aderne – vozes
Nilson Dourado – percussões
Walter Areia – contrabaixo
Junior De Oliveira – frigideira, agogô e tamborim
Allan Abadia – trombone
Diogo Duque – Trompete
Fred Martins – violão
Luís Filipe De Lima – sete cordas
Curta Metragem:
Direção e texto: Pierre Aderne
Câmeras: Manuel Águas, Marcão Oliveira, Francisco Nave
Edição: Cláudia Silvestre
Filmado entre o Rio De Janeiro e Lisboa
-Perfexx Assessoria-
Moacyr Luz e Pierre Aderne – Foto de Capa: AF Rodrigues
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