Talento que vem de Parintins
Todo ano cerca de 500 artistas de Parintins, no Amazonas, vêm à capital paulista trabalhar nas escolas de samba. E se hoje os desfiles apresentam fantasias, alegorias e esculturas impecáveis, é graças a um dom quase natural deste grupo.
Parintins é famosa pelo Festival Folclórico do Boi, realizado anualmente no último final de semana de junho. O evento é tão tradicional que muitos dos 70 mil habitantes da cidade acabam indo trabalhar no ramo artístico.
“Lá é conhecido como a cidade dos artistas. A maioria dos artistas vem de berço, porque os pais são artistas, professores de arte, artistas de ponta dentro do Boi, famosos. Então todos que estão hoje ingressando dentro do Carnaval tem um pai que é artista, tem um tio que é artista”, falou Neto Barbosa, responsável por esculturas, pinturas, desenhos e desenvolvimento dos carros da Independente Tricolor.
Há pouco mais de 20 anos, o talento natural de Parintins foi descoberto pelos carnavalescos. E a partir daí passou a rolar esse intercâmbio cultural.
“A escolha dos profissionais parintinense quase sempre se dá por indicação ou observação. Na primeira opção, um profissional já conhecido no meio de trabalho indica outro que tenha experiência ou talento. Na segunda, alguns diretores de escolas de samba vão a Parintins, geralmente no período do Festival, e observam o trabalho dos profissionais na arena do Bumbodromo e nos Galpões de alegorias e fantasias”, explicou Neide Lopes, uma das carnavalescas da Mocidade Alegre e que é natural de Parintins.
“Quase todas as escolas trazem uma média de 15 a 20 profissionais de Parintins para trabalhar em suas fantasias e alegorias. A Mocidade Alegre, por exemplo, é uma das que mais utiliza a nossa mão de obra. São cerca de 60 profissionais de lá que trabalham aqui, entre soldadores, escultores, pintores, decoradores, revestidores, fibradores aderecistas, costureiras e, inclusive, nós, eu e Carlos, que somos carnavalescos da escola”, completou Neide.
Vivendo da arte há 15 anos, Euler Alfaia, da X-9 Paulistana, revelou que os artistas amazonenses fazem “de tudo um pouco”. E que até hoje vive nessa “ponte aérea”.
“O artista de Parintins que trabalha na parte de galpão tem que saber um pouco de tudo: serralheria, escultura, revestimento, decoração, pintura… Eu faço mais a parte de revestimento de alegoria e adereço”, disse Euler.
“Assim que acaba o Carnaval aqui em São Paulo, a gente já desmonta os carros, guarda no barracão, devolve pra escola e volta pra Parintins. Nesse período que a gente está em Parintins, trabalha no Festival e mantém contato com as escolas de samba, já vai vendo qual o enredo pra ser feito, começa o processo de montagem de equipe, vê e escolhe os parintinenses que vêm. E a gente geralmente vem logo depois do Festival, mês de julho, agosto”, explicou o artista da X-9.