Lançado pouco antes do início da pandemia em 2020 como parte da coleção Dramaturgia Brasileira, pela Giostri Editora, o livro “Leopoldina, Independência e Morte” tornou-se uma forma do público levar um pouco do espetáculo para casa, após as apresentações presenciais, que, ao todo, chegou a 10 mil espectadores entre 2018 e 2020.
No novo contexto, a peça ganhou uma versão audiovisual e teve uma primeira temporada com 17 sessões entre 08 e 14/03, contando com mil conexões da exibição completa. Para o público que quer se aprofundar no texto e outros interessados, o autor lança uma campanha de desconto pós temporada, que vai até o fim do mês de março: R$30 com frete incluso para todo o Brasil no link leopoldinaindependenciaemorte.com/adquira-o-livro/.
“O público saía do teatro entusiasmado com a história de Leopoldina e muitos compravam o livro assim que terminava a peça”, afirma o autor Marcos Damigo. “Com a interrupção da nossa segunda temporada no Rio de Janeiro, no Teatro Petra Gold, a venda dos livros também foi interrompida. Agora, com o sucesso da temporada online, resolvemos fazer essa promoção para que a história da Leopoldina chegue ao maior número possível de pessoas”, completa.
Segundo Paulo Rezzutti, biógrafo de Leopoldina e consultor histórico da peça, “A força de D. Leopoldina, que desperta ao longo da peça, é um dos grandes resgates do texto da figura humana da imperatriz. Mostra ela efetivamente longe de parecer passiva ou meramente uma figura que cumpria estritamente o seu papel social. Reconduzi-la ao seu papel de direito e reconhecê-la como um dos artífices do processo da nossa independência é um dos grandes pontos da peça Leopoldina, Independência e Morte.”
Sobre o autor
Ator, diretor e autor teatral formado pela Escola de Arte Dramática (ECA/USP), Marcos Damigo possui grande interesse pela história do Brasil como fonte de criação artística: ganhou o Prêmio Nascente da USP por seu primeiro texto teatral, “Cabra”, sobre a Guerra de Canudos; adaptou clássicos como “O Retrato de Dorian Gray” (Oscar Wilde), realizado pelo Teatro Popular do SESI SP, onde também foi protagonista, e “O Barão nas Árvores” (Ítalo Calvino), para a Cia. Circo Mínimo; e coordenou a dramaturgia do projeto “O Que Morreu Mas Não Deitou?”, indicado ao Prêmio Shell na categoria especial. Como diretor, realizou “Os Visitantes” (Priscila Gontijo) e “Perfeitos, Perversos e Educados” (Howard Brenton), que também traduziu para o português. Na televisão, estreou no SBT como protagonista da novela “Fascinação” (Walcyr Carrasco). Na Rede Globo, atuou em “Joia Rara” (Thelma Guedes e Duca Rachid), ganhadora do prêmio Emmy Internacional de melhor novela, e “Insensato Coração” (Gilberto Braga e Ricardo Linhares). Recentemente, atuou nos elogiados monólogos baseados nas obras de Machado de Assis “As Sombras de Dom Casmurro”, sob direção de Débora Dubois, e “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, direção de Regina Galdino, que lhe rendeu indicação ao Prêmio APCA de Melhor Ator 2017.
Sinopse
O espetáculo recria três momentos da vida da arquiduquesa austríaca que viveu no Brasil no século XIX, entre 1817 e 1826: recém-chegada da Áustria, ela relata a uma interlocutora estrangeira suas primeiras impressões sobre o Brasil; num segundo momento, Leopoldina, agora imperatriz, e José Bonifácio, seu principal aliado, analisam o complexo processo de independência após um acerto de contas; e, por fim, num delírio que consumiu seus últimos dias, ela relaciona sua vida, sua época e os projetos em disputa naquele momento com os dias de hoje.
A origem do projeto
“O ensaio publicado pela escritora e psicanalista Maria Rita Kehl no livro ‘Cartas de uma Imperatriz’ (Estação Liberdade) foi o estopim para encontrar o recorte de uma história tão rica e interessante, enfatizando a transformação da princesa europeia em estadista consciente de seu tempo histórico. Queremos também mostrar para o público de hoje o projeto de um país que, infelizmente, fracassou com a sua morte e o exílio de Bonifácio. Falar deste sonho de quando o Brasil se tornava uma nação independente é importante para nós, principalmente neste momento em que parecemos ter que negociar pressupostos muito básicos dos entendimentos sobre a vida em sociedade”, conta o autor e diretor Marcos Damigo.
Esta montagem é um sonho acalentado por Damigo há vinte anos. Suas inspirações para jogar luz sobre o legado da primeira mulher a se tornar chefe de Estado do Brasil (em duas situações ela governou o Brasil como regente interina: setembro de 1822, quando a independência foi proclamada, e no final de 1826, já em seu leito de morte), surgiram de um mergulho profundo na história de Leopoldina publicada em biografias, artigos e cartas – trechos das correspondências estão no texto no espetáculo. As falas de Bonifácio também foram extraídas de escritos do primeiro brasileiro a ocupar o cargo de Ministro de Estado. O historiador Paulo Rezzutti, autor do livro “D. Leopoldina, a história não contada“ (Editora Leya), prestou consultoria histórica para a peça.
Sobre a imperatriz Leopoldina
Descendente dos Habsburgos, a família mais poderosa do início do século XIX, Carolina Josefa Leopoldina Francisca Fernanda de Habsburgo-Lorena nasceu em Viena, capital da Áustria, em 22 de janeiro de 1797. Era filha do imperador Francisco I da Áustria e de Maria Teresa da Sicília. Foi a primeira imperatriz brasileira e ficou conhecida popularmente como D. Maria Leopoldina. Deixou sua terra natal rumo ao Brasil para casar-se com Dom Pedro I, em um matrimônio arranjado típico daquela época.
Leopoldina chegou ao Brasil com 19 anos, morreu aos 29 e engravidou nove vezes. Articuladora e estrategista, foi responsável por ações cruciais para a política da época, mas seu grande feito como estadista não foi reconhecido até os dias atuais: enquanto regente interina durante viagem de Dom Pedro a São Paulo, ela reúne os ministros e decide pela independência do Brasil no dia 02 de setembro de 1822. Na peça, ela clama pela autoria do momento histórico e questiona a escolha do dia 07 de setembro para sua celebração.
Gostava de teatro e literatura e falava vários idiomas, além de ser botânica e mineralogista. Segundo Maria Rita Kehl, “D. Pedro continuava dependendo de Leopoldina; ela o orientava politicamente, comunicava-se com representantes de países estrangeiros com mais desenvoltura, falava mais línguas e era mais culta do que ele. Mas Pedro vingava-se da superioridade da esposa desmoralizando-a como mulher”. Conforme a paixão de D. Pedro por Domitila se tornava pública e ela ficava cada vez mais poderosa, Leopoldina e o projeto político que representava foram perdendo força. Morreu após um aborto, deixando cinco filhos, entre eles o sucessor do trono, Dom Pedro II.
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