Grandes transformações, especialmente no mercado de trabalho, têm ocorrido em todo o mundo, no cenário pós-Covid-19. Dentro das empresas, crenças e processos que existiam anteriormente tornaram-se obsoletos, o que gerou necessidades diferentes e novos desafios para os profissionais, independentemente de sua área de atuação e do seu nível hierárquico. Os processos de implantação da tecnologia e da automação também foram acelerados, em função das restrições impostas pela pandemia, e continuarão avançando em 2022. Segundo a previsão do The Future of Jobs Report, apresentada pelo Fórum Econômico Mundial, em outubro de 2020, mas ainda muito atual, cerca de 97 milhões de funções poderão ser criadas com a revolução robótica, nos próximos anos. Resultado de uma reorganização do trabalho entre humanos, máquinas e algoritmos. Nesse cenário, reinvenção é a palavra de ordem em um mundo cada vez mais complexo e imprevisível.
Você já tem se preparado para essas novas posições? Ou sabe se sua atividade corre risco e pode ser substituída por um robô? Independentemente dessas respostas, é de vital importância buscar se diferenciar para não se tornar obsoleto e ainda para obter relevância no meio corporativo. As organizações estão com estruturas mais enxutas e à procura de mais senioridade de seus colaboradores. Assim, com a velocidade com que as informações e culturas têm se alterado, acompanhar todas as tendências e evoluções é um papel árduo, porém necessário e que cada um, com protagonismo, precisa exercer.
A partir daí, é essencial ter a resiliência bem desenvolvida, porque aqueles que não possuem essa capacidade de se adaptar aos variados contextos e situações – e se reinventar – estão fadados ao fracasso. Outras competências e habilidades (soft skills) que reforcem a sensibilidade humana também serão fundamentais para se destacar na carreira em 2022. Essas qualidades, como originalidade, criatividade e conexão com pessoas, tendem a ser mais valorizadas, especialmente à medida que o uso das ferramentas tecnológicas aumenta. Assim, ser humano, valorizar o “olho no olho” e estabelecer conexões genuínas nunca foram tão relevantes.
Além disso, em 2022, como aconteceu nos últimos dois anos, o indivíduo polivalente, multidisciplinar, que reúne o máximo de soft skills, será o que perdurará ao longo do tempo, especialmente com a aceleração da aplicação da tecnologia, que resulta em enormes mudanças na maneira como as pessoas se relacionam com o trabalho. E já que se fala tanto em adaptação a mudanças, é latente criar oportunidades, mesmo diante das adversidades, sendo questionador e propositivo quanto ao status quo, ou seja, sobre o modo como os processos são feitos. Consequentemente, esse profissional promoverá a tão desejada inovação, construirá relevância e credibilidade.
Evidentemente, para isso, é preciso ter determinadas características, como atitude, curiosidade, ousadia e mente aberta. Afinal, quanto mais conhecimento generalizado se obtém, mais plural ele se torna e ganha consistência para lidar com adversidades com mais facilidade, assim como para propor soluções criativas para problemas correntes, com maturidade emocional. Isso indica que, em 2022, as empresas permanecerão desejando os profissionais talentosos, conhecidos como nexialistas, já bastante comentados no mercado. Esse é o termo que designa um perfil que pode se encaixar em diferentes grupos de trabalho, lidando muito bem com a diversidade nos variados aspectos. Ainda possui habilidades para contribuir e engajar times distintos, reúne conhecimentos variados e apresenta uma tenacidade voltada para a solução de problemas Ele agrega a tecnologia e as pessoas para a entrega dos resultados, mesmo que não esteja em uma posição de liderança.
Do lado das empresas, também há muitos desafios para o próximo ano, a fim de promover as adaptações ao novo mercado. É urgente e estratégico, por exemplo, a implementação de um trabalho eficiente e eficaz de requalificação de seus colaboradores, pensando, inclusive, nos planos de sucessão de posições e de conhecimento, para que possam preencher vagas na economia “verde”, funções na vanguarda da economia de dados e de inteligência artificial, bem como novas atividades em engenharia, computação em nuvem e desenvolvimento de produtos.
Outro aspecto crucial: propósito, legado, felicidade no trabalho e diversidade, com inclusão e equidade, são termos que têm saído do dicionário corporativo e têm sido cobrados, com veemência, pelos variados stakeholders, especialmente em função das discussões sobre ESG (Environmental, Social and Corporate Governance). Isso envolve o cuidado com o meio ambiente, com a responsabilidade social e as ações por melhores práticas de governança corporativa. É essencial, portanto, que todos, empresas e profissionais, reflitam sobre impacto querem deixar na sociedade.
David Braga é CEO, board advisor e headhunter da Prime Talent. É também professor convidado da Fundação Dom Cabral (FDC) e autor do livro “Contratado ou Demitido – só depende de você”. Ele atua, ainda, como conselheiro de RH da ONG ChildFund e da ACMinas e como conselheiro executivo da ABRH-MG.
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David Braga – Foto de Capa: Carmine Furlleti
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