O CURA em 2021 constrói sua canoa intergalática para descer as águas da Avenida Amazonas, deixando a Rua Sapucaí – o primeiro e único mirante de arte urbana do mundo, onde desemboca na praça Raul Soares. Ali começa a receber os novos artistas desta que é sua sexta edição. A partir do 21 de outubro desembarcam por lá: Kassia Rare Karaja Hunikuin com o Coletivo Mahku (Acre), Sadith Silvano e Ronin Koshi, artistas Shipibo (Peru) e Ed-Mun (MG).
A praça passa a ser uma Zona Autônoma Temporária, dando novos nomes às ruas que formam aquela encruzilhada. O Rio Amazonas deságua lá, carregando a energia das águas: seus seres, deusas, energia que lava, banha, faz germinar sementes. A escolha curatorial desta edição vem fortalecer esse conceito de novo território.
“Já tínhamos o sonho de trazer o Coletivo Mahku, e a edição desde ano, quando o Cura explora a narrativa do Rio Amazonas, não poderia trazer mais sentido a esse convite” fala Priscila Amoni, uma das idealizadoras e diretoras artísticas do festival. Os Mahku, originários do Acre, trabalham a cura, pintando a partir de cantos xamânicos que traduzem saberes, rituais e tradições do que se conhece como “espírito da floresta”. No Cura 2021, será representado por Kassia Rare Karaja Hunikuin (Kássia Borges) com Banê (Cleiber Sales) e Itamar Rios. “Agora, eu estou pintando só cantos de cura. A gente está precisando muito: o Brasil e o planeta precisam. Escolhi uma pintura para esse momento de pandemia e pelas perdas irreparáveis”, afirma Kássia.
Já Sadith Silvano e Ronin Koshi são artistas indígenas peruanos Shipibo, povo que desenvolveu um sistema de desenhos chamado Kené, declarado Patrimônio Cultural de seu país. O traçado segue padrões geométricos, expressando a cosmovisão shipibo e os seus ícaros, as canções entoadas nos rituais com ayahuasca. Também em comum, a vida à beira dos afluentes do Rio Amazonas.
Nesta edição, Ed-Mun é o artista anfitrião. Um dos maiores grafiteiros de BH, famoso pela maestria na técnica para criar graffitis realistas, é quem dá as boas vindas. Conhecido internacionalmente dentro da cena de graffiti caligrafia 3D, vai realizar um sonho ao fazer sua primeira empena. Ed-Mun vem coroar essa edição trazendo a cultura da rua. “Me sinto muito honrado com o convite desse projeto maravilhoso. Sempre sonhei em pintar uma empena, em qualquer lugar que fosse, aconteceu desse lugar ser muito especial. Estou muito ansioso para iniciar esse trabalho, espero que corra tudo bem, que o clima ajude, e que as pessoas aprovem, pois uma arte assim é para todes”, conta ele. Sobre o que vai fazer, Ed-Mun adianta “é uma arte em homenagem a escrita, a comunicação por símbolos e grafismos, inspirado na arte marajoara, na pintura rupestre, mas com um estilo urbano contemporâneo que é o graffiti 3D e com um pouco de anamórfico, que dará uma ilusão de ótica para quem for ver a pintura, ter uma impressão que ela vem de dentro do prédio”.
As novas empenas serão entidades. É a arte coletiva misturada com a vida e assim, mais uma vez, o CURA convida a outras formas de pensar a arte.
Novidades
Pela primeira vez o CURA conta com uma vivência, guiada por Tainá Marajoara entre os dias 30/10 e 02/11 e conta ainda com a participação de Patrícia Brito (BH/MG), Silvia Herval (BH/MG) e Mayô Pataxó (Ubaporanga/ MG). “A Raulzona nos fez ver a magia da cultura Marajoara tatuada no centro da nossa cidade. E nos levou a essa mulher incrível que é a Tainá Marajoara, cozinheira, artista, realizadora cultural e pensadora indígena. Ela vai guiar / liderar uma vivência com mais 3 mulheres que trabalham com comida, cura e arte. O futuro é coletivo e esse coletivo formado por Tainá Marajoara, Mayo Pataxó, Silvia Herval e Patricia Brito vai compartilhar saberes e experimentar o território” adianta Janaína Macruz, idealizadora e curadora do festival.
Já o Coletivo Viva JK participa através de uma projeção, um retrospecto histórico que vai localizar, por meio de manchetes e trechos de reportagens a partir da década de 60, como a praça Raul Soares passou a ser disputada: por um lado, uma sociedade que desejava reprimir a população LGBTQIA+. De outro, essa população, especialmente mulheres trans e travestis, que já frequentavam a região.
Dirigida pelo videoartista Eder Santos, sobrepõe as representações negativas das pessoas LGBTQIA+ a fotografias de mulheres trans e travestis, registros que são parte do acervo pessoal da saudosa Anyky Lima e do fotógrafo Lucas Ávila. As pessoas fotografadas representam a ancestral luta por reconhecimento da própria identidade, sendo entidades da comunidade queer belo-horizontina. Já as reportagens são parte da pesquisa de Luiz Morando, autor do livro “Enverga mas não quebra: Cintura Fina em Belo Horizonte“.
Além dos retratos e reportagens, a projeção usa cenas do videoclipe “Duas Pessoas”, de Aldrin Gandra e dirigido por Barão Fonseca, e cenas uma batalha de Vogue gravadas na boate Matriz, no edifício JK, cedidas pelo cineasta Leonardo Barcelos. O Vogue é um estilo de dança pautado por performances que, entre outras coisas, comunicam o orgulho LGBTQIA+. Surgiu no Harlen, em Nova Iorque, e, no Brasil, fez de BH sua capital. A projeção traz ainda grafismos que remetem à praça Raul Soares, localizando o território. Os textos de jornais de época e as fotos de mulheres trans e travestis serão localizados geograficamente, indicando que lugares são esses atualmente. O trabalho de design será feito pelo artista gráfico Fred Birchal, apaixonado por arquitetura e urbanismo, morador do JK desde 2019.
O Coletivo Viva JK (@VivaJK) é formado por moradores e amigos do Conjunto Governador Kubitschek, o maior monumento modernista de Minas Gerais. Formado em 2019, o coletivo se propõe a conectar as pessoas ao Edifício JK para, juntos, construirmos um patrimônio vivo, harmônico e plural.
Festival começa na quinta-feira (21/10) em Belo Horizonte
Programação:
21 de outubro a 02 de novembro:
Pintura de Empena
Artista Ed-Mun (MG)
Edifício Paula Ferreira – Praça Raul Soares, 265
21 de outubro a 02 de novembro:
Pintura de Empena
Artistas Kassia Rare Karaja Hunikuin com Coletivo Mahku – Movimento dos artistas Huni Kuin (AC)
Edifício Levy – Av. Amazonas, 718
23 de outubro:
Intervenção
Coletivo Viva JK (MG)
Edifício JK – Rua dos Guajajaras, 1268
29 de outubro a 01 de novembro:
Pintura-ritual – Chão da Av. Amazonas, ao redor da Praça Raul Soares
Sadith Silvano e Ronin Koshi, artistas Shipibo ( Peru)
30 de outubro a 02 de novembro:
Vivência
guiada por Tainá Marajoara ( PA), com Patrícia Brito (MG), Silvia Herval (MG) e Mayô Pataxó (MG), mais sobre os artistas abaixo
Este ano o CURA se expande e acontece em um período maior. A sexta edição do festival conta ainda com uma terceira empena que será pintada pelo vencedor da convocatória pública. O Grupo Giramundo está confirmado com uma inédita instalação na praça e acontece ainda o lançamento do catálogo oficial do festival!
O novo território
A Praça Raul Soares tem uma característica que a torna única na cidade: seu piso com grafismos marajoara. O povo marajoara, formado por grupos indígenas nômades, é considerado extinto, mas segue viva a cultura entre descendentes. A arte marajoara na praça nos convida à reflexão nestes tempos de morte e renascimento.
No centro da praça está a fonte, cujo contorno nos remete à imagem da Chakana, a cruz Inca, povo originário do Peru, país onde fica a nascente do rio Amazonas. Ela possui doze pontos, cada um dos quais divididos em terços que representam três mundos: o mundo inferior, que é o mundo dos mortos; o mundo que vivemos, que é o mundo dos vivos; e o mundo superior, que é o mundo dos espíritos. Ao ler os signos deste novo território, compreendemos ainda mais o que guiou a curadoria desta edição.
Esta mesma praça, que guarda a cultura dos povos originários do rio Amazonas, é considerada o centro geográfico de BH e, por ela, cruzam avenidas que conectam as regiões oeste e leste, norte e sul da cidade. Mas, para além das travessias, a Praça Raul Soares é, sobretudo, um lugar de encontros de pessoas e de histórias, é lugar de toda a gente. É encontro marcado de protestos e manifestações; de blocos de carnaval; de casais; de quem vai se exercitar, de moradores em situação de rua e da classe trabalhadora.
Sobre o Coletivo MAHKU
MAHKU é um coletivo de artistas indígenas da etnia Huni Kuin do Alto Rio Jordão no Acre. O movimento, que foi criado em 2013 por Ibã Huni Kuin (Isaias Sales), conta também com Kássia Rare Karaja Hunikuin (Kássia Borges), que faz parte do grupo desde 2018. Desde a sua criação, o MAHKU tem participado de várias exposições no Brasil e exterior, retratando a história Huni Kuin, sua língua e a miração guiada pela Ayahuasca. Com o objetivo de proteger a cultura e a floresta, o coletivo tem arrecadado fundos para a compra de mata virgem com a venda de suas obras, que figuram em diversos acervos como no MASP, Pinacoteca de São Paulo, MAM, Instituto Moreira Sales, Fundação Cartier, Universidade Federal do Amazonas, Universidade Federal de Uberlândia dentre outros.
Sobre Sadith Silvano e Ronin Koshi
Sadith Silvano é uma artista visual, ativista indígena pelos direitos culturais e difusora da arte hipibo-konibo. Já trabalhou com instituições reconhecidas como Lugar de la Memoria, Ministerio de Cultura, PromPerú, entre outras. Também colaborou com projetos artísticos de diferentes coletivos e artistas peruanos. Já pintou murais junto a outros artistas de sua comunidade e apresentou seu trabalho na capital e em outras regiões do Peru.
Ronin Koshi cresceu Shipibo em Lima, capital do Peru, para onde se mudou aos quatro anos. Sua vida foi marcada pelo encontro da educação ocidental tradicional e os ensinamentos passados por sua família. Seu trabalho na arte começou junto à mãe, bordando telas e pintando com tingimentos naturais, o que adiante, o levou a um aprofundamento em sua cultura. Se aperfeiçoou na universidade de artes onde combinou os ensinamentos com seus conhecimentos ancestrais. Jovem ativista, artista e líder indígena, hoje divulga sua cultura para todo o mundo através dos seus murais ao mesmo tempo em que incentiva os jovens de sua comunidade a sentirem orgulho de sua identidade cultural por meio da arte. Através dos murais, passa o conhecimento de seus ancestrais, desenhos com padrões geométricos que falam das plantas medicinais, do universo e do poder animal como guardião da floresta. Também participa de palestras públicas e privadas e colabora com diversos artistas e antropólogos. Seu nome significa anaconda poderosa.
Sobre Ed-Mun
Ed-Mun é um graffiti writer e professor de Belo Horizonte que pinta desde 1997. Realiza trabalhos pelo Brasil e países da América Latina, América do Norte, Europa e Estados Unidos, onde frequentemente expõe em museus e festivais. Fundou uma das crews mais importantes da América Latina, a PDF Crew, e também faz parte da DMC Rock, formada em 1982 em Madri/ES e o grupo FX Crew formado em 1992 em Nova York, um dos grupos de graffiti mais importantes do mundo. Expôs em galerias na Rússia e Bulgária e é representado pela galeria Aurum em Bangkok/Tailândia. Seus trabalhos estão em revistas e outras mídias espalhadas pelo mundo, como no livro espanhol “Graffiti Around The World”.
Sobre Tainá Marajoara
Tainá Marajoara carrega a ancestralidade matriarcal do povo originário Aruã Marajoara. A pensadora indígena também é curadora, cozinheira, realizadora cultural e fundadora do Ponto de Cultura Alimentar Iacitatá.
Liderança da Rede de Cultura Alimentar e da luta para a conquista do reconhecimento da cultura alimentar como expressão cultural brasileira a partir da construção do conceito de Cultura Alimentar, foi eleita conselheira nacional de cultura alimentar no âmbito do Ministério da Cultura. É pesquisadora membro do NEHO – Núcleode Estudos em História Oral da USP, é membro da LASA – Latin American Studies Association.
Em 2011, recebeu o prêmio Cátedra Libre Cayetano Redondo de Conocimientos Humanitários, na Venezuela. Em 2014, o projeto CATA – Cultura Alimentar Tradicional Amazônica foi considerado uma iniciativa amenizadora para as mudanças climáticas pela IFCCA, e em 2018, foi agraciada com a comenda Paulo Frota de Direitos Humanos pela Assembleia Legislativa do Pará e com a comenda Amazônia, pela Câmara de Vereadores de Belém. Em 2019, foi homenageada pelo Congresso Brasileiro de Agroecologia e Festival Internacional de Cinema de Agroecologia.
Sua atuação é ainda voltada para a salvaguarda do patrimônio cultural alimentar da Amazônia paraense, cartografias de identificação e valorização de mestres e mestres de saberes alimentares tradicionais, de modo a compreender o alimento como laços memoriais de transmissão de conhecimentos para manutenção das práticas culturais para gerações futuras.
Sobre o Cura
O Circuito Urbano de Arte realizou sua quinta edição em 2020, completando 18 obras de arte em fachadas e empenas, sendo 14 na região do hipercentro da capital mineira e quatro na região da Lagoinha, formando, assim, a maior coleção de arte mural em grande escala já feita por um único festival brasileiro.
Idealizado por Janaina Macruz, Juliana Flores e Prisicila Amoni, o CURA também presenteou BH com o primeiro e, até então único, Mirante de Arte Urbana do mundo. Todas as pinturas podem ser contempladas da Rua Sapucaí.
Serviço
CURA – Circuito Urbano de Arte, 6ª edição
Início: 21 de outubro de 2021
Local: Praça Raul Soares
https://www.instagram.com/cura.art
PATROCÍNIO MASTER:
Becks ( Lei Estadual de Incentivo à Cultura)
PATROCÍNIO:
Cemig – Governo de Minas
Localiza
Lei Municipal de Incentivo à Cultura
APOIO:
Coral
Planalto Tintas
APOIO INSTITUCIONAL
Belotur e Prefeitura de Belo Horizonte
REALIZAÇÃO:
Pública Agência de Arte
-Renata Alves-
Comunicação
Sadith Silvano – Foto de Capa: Eliana Sangai
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