O clima emocionado da premiação de “Ainda estou aqui”, filme de Walter Salles que acaba de vencer o primeiro Oscar da história do Brasil, e o movimento de repúdio à repressão e aos regimes ditatoriais tomaram conta do Carnaval de Rua do Rio nesta manhã de segunda-feira (03/03). Com a irreverência de seus enredos e homenagens a Elis Regina e Fernanda Torres, os blocos Sargento Pimenta, no Aterro do Flamengo, e Vem Cá Minha Flor, no Centro, foram alguns dos 48 cortejos que animaram multidões por toda a cidade com suas orquestras de multi-instrumentistas. Juntos, os dois blocos atraíram cerca de 100 mil foliões para a folia das ruas pela manhã.
O Aterro do Flamengo foi tomado pelo clima da festa do Oscar. Era o desfile do Sargento Pimenta, que teve até premiação com o nome de Fernanda Torres: os troféus “Ainda estou aqui”, para o folião com mais tempo de bloco; “Já estou aqui”, para o mais jovem; além de um prêmio para a melhor fantasia. O cortejo, que desde 2011 faz a alegria dos foliões com canções dos Beatles em ritmo de samba, no Carnaval deste ano homenageou a cantora Elis Regina, a “Pimentinha”, que completaria 80 anos em março.
“O repertório tem muitas músicas em inglês, mas a gente sempre tenta olhar para os artistas brasileiros e fazer uma mistura que dá samba. E existiam várias conexões com a Elis, essa cantora tão emblemática para a nossa cultura. Além do apelido de ‘Pimentinha’ e da icônica ‘Para Lennon e McCartney’, canção do Clube de Esquina que ganhou fama na sua voz, ela faria 80 anos em março, mês do Carnaval desse ano, então foi uma escolha muito natural”, afirma Gustavo Gitelman, diretor e um dos fundadores do bloco.
Do palco montado em frente ao Monumento dos Pracinhas, a banda animou o público com arranjos exclusivos para clássicos do quarteto de Liverpool. Na lista, “All you need is love”, “Yesterday”, “Yellow submarine” e “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, canção que dá nome ao bloco, somadas a sucessos do repertório de Elis, como “O bêbado e a equilibrista”, canção de Aldir Blanc que acabou ficando conhecida como o hino da anistia ao pedir o fim da repressão e “a volta do irmão do Henfil”.
Vestida com uma camiseta da banda inglesa, Margarete Falcão, moradora de Maria da Graça, Zona Norte do Rio, chegou cedo para pegar lugar bem colada à grade. Fã dos Beatles e do Sargento Pimenta, ela disse que acompanha os desfiles do bloco desde a época em que eram realizados em Botafogo:
“Amo os Beatles, minha mãe gostava muito de ouvir, então desde criança escuto, é uma relação da vida toda. O bloco é maravilhoso, faz arranjos para as músicas originais em ritmo de samba, axé, frevo. Tudo combina e fica ótimo”.
Com uma orquestra de frevo formada por 120 instrumentistas, em sua maioria, da Zona Oeste da cidade, e 15 bate-bolas à frente do cortejo, o Vem Cá Minha Flor reforçou a tradição da cultura do subúrbio através das históricas fantasias de Clóvis. Conhecida por florir o Centro da cidade a cada desfile, a agremiação, em seu nono evento, também homenageou a atriz Fernanda Torres: um grupo de pernaltas abriu um clarão, bem no meio do cortejo, e desfraldou uma Bandeira do Brasil com o rosto da protagonista de “Ainda estou aqui” ao centro, arrancando gritos de “Sem anistia”.
Executadas pela banda afinada, canções como “Milla”, de Netinho, “Identidade”, de Jorge Aragão, e “Haja amor”, de Luis Caldas, tema do bloco, animaram a multidão. Marchinhas como “Balancê”, composta por João de Barro e Alberto Ribeiro em 1936, lembraram antigos carnavais.
“A proposta do Vem Cá Minha Flor é fazer esse cortejo leve, lúdico, florido, que transforma o Centro numa espécie de jardim, agregando pessoas de todas as regiões da cidade. A maioria dos integrantes é do subúrbio do Rio, então trouxemos os bate-bolas, essas fantasias emblemáticas das zonas Norte e Oeste”, afirma o produtor cultural Leonardo Guidolin, um dos fundadores do bloco.
Um grupo de moradores de Paciência marca presença no Vem Cá Minha Flor desde a sua fundação, em 2015. A madrinha, a professora aposentada Rita Almeida da Silva, diz que foi um caso de “amor à primeira vista”.
“Fomos acolhidas pelos integrantes do Vem Cá Minha Flor e desde então marcamos presença por aqui. O Carnaval de Rua para mim é tudo. Gosto desse clima desde que eu era criança. Eu já vinha para o centro da cidade, que a minha mãe já me trazia com as minhas irmãs. Então, pra mim, é tudo.”
A folia de segunda terá ainda desfiles de blocos tradicionais como o Ciganas Feiticeiras de Olaria, que desfila no bairro da Zona Norte; o Tigre do Coqueiro, de Pedra de Guaratiba, na Zona Oeste; o Bloco Virtual, no Leme, Zona Sul do Rio; e o infantojuvenil Largo do Machadinho, Mas Não Largo do Suquinho, no Largo do Machado, também na Zona Sul.
Plano Operacional para o Carnaval de Rua 2025
Com a expectativa de atrair cerca de seis milhões de pessoas em 37 dias de folia, o Carnaval de Rua 2025 terá, até o dia 9 de março, mais de 470 apresentações espalhadas por diversas regiões do Rio.
Para garantir que o público aproveite a festa com segurança e conforto, a Prefeitura, por meio da Riotur, preparou um grande esquema operacional envolvendo CET-Rio, Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Comlurb, Secretaria de Ordem Pública (Seop) e Guarda Municipal do Rio (GM-Rio), entre outros órgãos, que atuarão nos locais de eventos e nos entornos.
A programação completa dos cortejos, com data, horário e percurso, está disponível no aplicativo Blocos do Rio 2025, em todas as plataformas digitais. A ferramenta é gratuita e funciona por geolocalização. A lista também está disponível no site https://www.carnavalderua.rio/, que reúne, além do calendário dos desfiles, notícias sobre os blocos e mais informações sobre o Carnaval de Rua do Rio 2025.
-Riotur-
Sargento Pimenta – Foto de Capa: Alex Ferro / Riotur
@ Portal AL 2.0.2.5