O enredo “Arroboboi, Dangbé”, que homenageia o Vodum Serpente, provoca uma reflexão. O carnavalesco Tarcísio Zanon, da Unidos da Viradouro, trouxe uma história do século XVIII, que aconteceu na costa ocidental da África. O enredo campeão do carnaval do Rio de Janeiro em 2024, resgata as ancestralidades africana, feminina, negra e também religiosa, alicerces principais da cultura e da sociedade brasileira.
A Vermelha e Branca de Niterói apresentou Dangbé, a mítica cobra cultuada no Noroeste da África. Rememorando, outro enredo icônico, sobre Exu, que deu à Acadêmicos da Grande Rio o título do carnaval carioca de 2022. A agremiação de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, desfilou com o enredo “Fala, Majeté! Sete chaves de Exu”, que desmistificou a imagem ruim de um dos orixás mais importantes de religiões de matrizes africanas. O Carnaval, além de ser um período de festa, funciona como uma luva para conscientização e aprendizado. Além do entretenimento e da valorização à cultura, tem uma relação direta com as origens históricas, trazendo uma legítima narrativa.
Professores e religiosos fazem uma reflexão sobre o tema. “O enredo da escola de Niterói, levou para o Sambódromo, com primor e maestria, a força das mulheres do Daomé na tradição africanas das sacerdotisas voduns, mulheres escolhidas e iniciadas em ritos de louvor à grande serpente sagrada. Levando a história e ancestralidade para a avenida, a Viradouro enalteceu a cultura negra e viabilizou a importância das religiosidades de matrizes africanas. É assim, vivenciando, ensinando e aprendendo com a arte e a magia do carnaval que podemos pensar na importância da tolerância em nossa sociedade. Defende o Pós – Doutor Babalawô Ivanir dos Santos – Professor e orientador no Programa de Pós-graduação em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGHC/UFRJ).
A Profa. Dra. Mariana Gino – Secretária Executiva Adjunta do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas- CEAP e Secrétaire Générale du Centre International Joseph Ki-Zerbo pour l’Afrique et sa Diaspora/N’an laara an saara. (CIJKAD-NLAS), também comenta sobre o enredo. “Viradouro levou para a Sapucaí a “metamorfose” da força das mulheres africanas e descendentes de africanas. Sim, uma força que vem se transformando e potencializando ao longo dos séculos. Uma força que cria possibilidades! Uma força ancestral que nos ajuda a descolonizar as nossas existências. A escola levou para o mundo a aplicabilidade da lei 10.639/03 que tornou obrigatório ensino das Histórias e culturas africanas e afro-brasileiras, levou luta contra o racismo no e contra as intolerâncias cotidianas que recai sobre os adeptos das religiões de matrizes africanas.”
E assim, a principal festa popular brasileira mostra a que veio…
-Rozangela Silva-
Assessoria de Imprensa
Ivanir dos Santos – Foto de Capa: Brunno Rodrigues
@ Portal AL 2.0.2.4