Nesta sexta (22), o Museu da República, no Catete, foi o palco para um importante encontro para as religiões de matrizes africanas. Contou com a presença da cônsul geral dos EUA no Rio de Janeiro, Jaqueline Ward, e do Prof. Babalawô Ivanir dos Santos, além de lideranças religiosas e autoridades.
Foi o 1º encontro entre a Cônsul e o sacerdote – O Babalawô e Dr. em História (UFRJ) Ivanir dos Santos recebeu, em 2019, um prêmio do Departamento de Estado do Governo dos Estados Unidos, pela importância na luta contra a intolerância a praticantes de religiões de matriz africana no Brasil. O brasileiro foi o único representante do hemisfério ocidental a ser premiado no evento. A premiação aconteceu durante a Ministerial Advance Religious Freedom, conferência sobre a liberdade religiosa, realizada anualmente em Washington.
A Sra Jaqueline Ward assumiu recentemente como cônsul geral dos Estados Unidos no Rio de Janeiro (com sede no Centro). A Diplomata de carreira tem larga experiência, atuou por 8 anos como diretora do Escritório Regional do Irã em Dubai, tendo sido também assessora do secretário de Estado dos EUA Colin Powell (faleceu essa semana, aos 84 anos, foi o primeiro secretário negro do Estado dos Estados Unidos), durante o governo George W. Bush.
“A Missão Diplomática dos Estados Unidos tem o compromisso de se unir ao Brasil na promoção da liberdade religiosa. Nossos esforços conjuntos para proteger a liberdade de religião são parte essencial de quem somos como americanos e brasileiros. É um prazer conhecer o Ivanir, que recebeu dos EUA o Prêmio Internacional de Liberdade Religiosa por seu importante trabalho de apoio ao diálogo inter-religioso e de combate à discriminação de grupos vulneráveis”, defendeu Jaqueline Ward.
Para o interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR), foi mais que representativo. “É um importante passo, o maior desafio, para todos nós aqui reunidos, não é apenas construir uma sociedade mais tolerante, mas, sim, compreender que as pontas soltas que nos conectam fortalecem cotidianamente os processos de invisibilidade e sistematização do racismo e da intolerância”, pontuou Ivanir dos Santos.
A cônsul recebeu ainda do Prof. seus livros editados: “Marchar não é Caminhar” – O livro é o resultado da tese de doutorado que levanta e analisa as interfaces políticas e sociais das religiões de matrizes africanas no Rio contra os processos de intolerância religiosa e o racismo no Brasil, entre 1950 e 2008 e o livro bilíngue “Intolerância Religiosa no Brasil”, a pesquisa está pautada em documentos recebidos, registros de 2010, até dezembro de 2015, com dados consistentes, onde demonstram como a intolerância religiosa cresceu de acordo com o desconhecimento e preconceito.
O encontro não poderia ser em um local mais apropriado, foram devidamente recepcionados pelo diretor do Museu da República – Mário Chagas. Participaram da mesa redonda, no Salão Ministerial, o Dr. Júlio José Araújo Júnior – Procurador da República – MP, a Deputada Estadual Martha Rocha, que preside a Comissão Parlamentar de Inquérito sobre Intolerância Religiosa.
A intolerância religiosa, o racismo e o preconceito são um dos maiores fenômenos sociais brasileiros. “Um dos principais objetivos da CPI é definir políticas públicas, propor diretrizes, normas, instrumentos e prioridades para promoção e proteção da liberdade religiosa. Combater o racismo religioso é fundamental para uma democracia plena. Esse encontro é um exemplo do que podemos fazer para discutir práticas que devem ser adotadas”, declarou Martha Rocha.
Por volta das 9h, a cônsul geral Jaqueline Ward fez uma breve introdução. Em seguida, o sacerdote Ivanir dos Santos se apresentou e abriu para breves falas. O debate girou em torno da questão do racismo religioso e violência contra adeptos das religiões de matriz africana.
Presentes ainda Mãe Nilce Naira, do Ilê Omolu Oxum – um dos terreiros de Candomblé mais tradicionais do Rio de Janeiro (sobrinha biológica de Mãe Meninazinha e Ìyá Egbé do Ilê, com atuação significativa no Movimento Liberte Nosso Sagrado), que falou sobre o racismo religioso que resultou na apreensão dos objetos e o processo de recuperação dos objetos sagrados.
Para Mãe Nilce, todas as formas de reconhecimentos são representativas. “As religiões de matrizes africanas têm um legado, o caminho é longo e ainda hoje temos que lutar para preservar a nossa história”.
Desde junho desse ano, o Museu da República passou a abrigar definitivamente o Acervo Nosso Sagrado, composto por 519 objetos de religiões de matriz africana, que foram apreendidas entre o fim do século 19 e o início do século 20, pela polícia civil fluminense, quando as religiões de matriz africana eram criminalizadas. O acordo com a cessão definitiva foi assinado entre o Ilê Omolu Oxum e com o Museu Memorial Iyá Davina, que vem a ser o 1º museu etnográfico do Rio de Janeiro, específico às tradicionais comunidades de terreiro.
“Para o Minério Público é um momento importante e uma contribuição para discutir esse tema tão relevante. No momento que o cconsulado tem interesse em dialogar e ouvir as demandas das lideranças e a posição de órgãos do Estado, creio que fortalece a luta contra a intolerância religiosa e garante visibilidade que transcende o país, nossa preocupação é garantir que essas denúncias sejam ouvidas”. acrescentou o Procurador da República Dr. Júlio José Araújo Júnior.
A cônsul geral se dirigiu à reserva técnica do Museu, e viu de perto parte do acervo. O encontro foi reservado para um grupo seleto, no cuidado com a pandemia, onde foi respeitado espaçamento entre os convidados, além de medidas protocolares como o uso de máscaras.
É fato dizer que hoje se abriu mais uma possibilidade para a internacionalização das causas e pautas em prol das liberdades, dos direitos humanos, da pluralidade, das diversidades, contra o racismo e a intolerância.
-Rozangela Silva-
Assessoria de Imprensa
José Julio, Martha Rocha, Jesse Levinson, Mário Chagas, Ivanris dos Santos, Jaqueline Ward, Mãe Nilce Naira – Foto de Capa: Henrique Esteves
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