A Unidos de Bangu vai apresentar na Sapucaí, pela Série Ouro, o enredo “Jorge da Capadócia”, com desenvolvimento do carnavalesco Robson Goulart. Confira a sinopse do enredo, construída pelo enredista Amarildo de Mello.
Objetivo
No Carnaval de 2024, o G.R.E.S. UNIDOS DE BANGU apresentará o enredo “JORGE DA CAPADÓCIA”, quando o desenvolvimento fará um resumo de história desde o início de sua luta na Capadócia até chegar ao Brasil com os colonizadores como santo e sincretizado pelos povos de pele preta vindos da África.
Justificativa
Falar de Jorge da Capadócia é falar de lutas e de combates. Talvez, por isso, tão amado em nosso país e venerado como São Jorge ou Ogum. Em sua caminhada, Jorge permite e esboça analogias às lutas e demandas que nosso povo debela diariamente na corrida pela sobrevivência. Ao apresentar o enredo em questão, de forma intrínseca e abstrata, estamos falando também do sentimento batalhador de nosso povo.
Quando miramos na ótica da crença e da religiosidade, vamos de encontro a uma das maiores qualidades de nossa gente, que de forma exímia sabe fazer o exercício da fé e de suas crenças de forma plausível. Especificamente em nosso enredo que falaremos sobre Jorge da Capadócia, essa veneração, fé e louvação ganha macrodimensão.
São Jorge é um dos personagens religiosos mais conhecidos em nosso país. São palavras e emanações que vivem e convivem com o brasileiro em seu dia a dia, seja por conhecimento de sua história, por adoração, veneração ou por fé. Por tudo isso, nada mais justo, mágico e merecido do que fazer acontecer mais esse encontro da história de Jorge da Capadócia com o Carnaval.
Enredo
Nascido na Capadócia, hoje território da Turquia, Jorge era filho de cristãos. Ainda muito jovem, por ter em sua índole o poder combativo e sempre ser educado a lutar contra o mal, entrou para a carreira das armas. Exímio lutador e combatente, logo foi promovido a capitão do Exército Romano. Admirado pelo imperador Diocleciano, recebeu o título de Conde da Capadócia e passou a residir na corte imperial, exercendo a função de Tribuno Militar. Como lei, o Imperador publicou um édito que mandava prender todo soldado romano cristão que não reverenciavam aos deuses romanos.
Declaradamente cristão, Jorge manteve-se fiel. Por sua convicção religiosa e de crença, foi torturado de vários modos. Bravamente saindo vitorioso diante de diversas torturas, foi ganhando notoriedade e convertendo mais e mais soldados.
Conta uma lenda que o Imperador, contrariado, chamou um mago para acabar com a força de Jorge. De forma obrigatória, tomou duas poções e, mesmo assim, manteve-se firme e vivo. Diante desse acontecimento, até o feiticeiro juntou-se à lista dos convertidos, assim como a própria esposa do Imperador. Muito indignado com essas duas traições, Diocleciano, num ato covarde e no intuito de barrar Jorge e suas ideologias religiosas, manda degolar o ex-soldado em 23 de abril de 303 d.C.
No entanto, o fim da vida não seria o término de sua fama e suas ideologias religiosas, pois recebeu o título de “Grande Mártir”. Venerado como santo desde o século IV, a fé em São Jorge se intensificou na Idade Média, especialmente no período das cruzadas, quando então se espalha pelo mundo todo.
Outra lenda surgida nesse período afirma que São Jorge venceu Satanás em terríveis batalhas, ficando conhecido como guerreiro de fé, representado por esse feito como um jovem imberbe, de armadura, tanto em pé como em um cavalo de cor branca com uma cruz vermelha. Lendas e mitos a cerca de Jorge são inúmeras, porém, outra representação aponta ele como um cavaleiro que vence um dragão, que foi propalada e surgiu a cerca de romances de cavalaria e com narrativas diversas a respeito desse mito. Nesta batalha, o santo foi protegido repetidas vezes por espinhos de uma laranjeira, vencendo o mal, conseguindo defender a donzela pura, que confessou acreditar em seu Deus, tornando-se cristã.
Passando a ser cultuado, adorado e amado em várias partes do mundo, tornou-se muito popular e escolhido como patrono de países, entidades, times de futebol, eventos e acontecimentos. Dentre alguns patronatos podemos citar: Inglaterra e Portugal, assim como, Catalunha e Moscou. Já na África, São Jorge é considerado padroeiro da agricultura. Muito cultuado no Brasil, é patrono dos escoteiros, bicheiros, soldados, policiais, bombeiros, armeiros, cavaleiros, seguranças e serralheiros, destacando-se como padroeiro do clube Corinthians.
A devoção brasileira a São Jorge deve-se à colonização portuguesa. Entretanto, a força do venerado Guerreiro só explodiu no país a partir do sincretismo religioso com os cultos afro-brasileiros, trazendo festas e tradições em vários pontos de regiões.
Obrigados pelos colonizadores a professar a crença e a fé cristã, o povo negros vindos da África traziam suas memórias, atrelados ao seu viver, suas crenças, divindades e lembranças que eram proibidas também de serem cultuadas. O caminho para que pudessem cultuar seus orixás era disfarçá-lo sincretizando santos da Igreja Católica com os orixás. Dessa forma, São Jorge tornou-se Oxóssi na Bahia e Ogum no Rio de Janeiro. Essa composição sincrética formada a partir de São Jorge-Ogum, tornou-os mais populares ídolos religiosos do Brasil, especialmente no Rio, quando no dia de sua comemoração foi decretado feriado na cidade.
Em meio a tantas lendas relativas a São Jorge, uma versão brasileira não poderia faltar. Ao que tudo indica, São Jorge na Lua é uma história tipicamente daqui. Segundo pesquisadores, vem do sincretismo religioso, que associa o santo a Ogum, orixá de força masculina, que busca na Lua a feminilidade necessária para o seu equilíbrio.
Mas quem é Ogum?
Uma divindade de origem africana cultuado em religiões afro-brasileiras, como a umbanda e o candomblé. Ogum é o orixá guerreiro, conhecido pela sua coragem e força. Aliás, em iorubá, grupo étnico linguístico da África Ocidental, Ogum significa guerra. É o senhor da metalurgia, tendo domínio sobre o ferro, o aço e todas as ferramentas feitas com esses materiais, como a lança, o martelo, a faca, a ferradura e a enxada. É um orixá associado à luta e também ao trabalho. Acompanhado de Oxaguiã, jovem filho guerreiro de Oxalá, Ogum nunca temeu a guerra. Nessa parceria cabia a Oxaguiã reconstruir no lugar onde aconteceu a guerra algo maior e mais próspero. Assim espalhava pelo mundo prosperidade, sem descanso, obrigando todos a trabalhar e progredir.
Seu símbolo é a espada e suas cores são o vermelho (na umbanda), o azul, o branco e o verde (no candomblé). Associado a São Jorge, o cultuado Santo Guerreiro da religião católica, comemora-se Ogum também em 23 de abril. Seu agrado: feijoada, inhame e xinxim, acompanhados da sua bebida predileta: cerveja.
Não podemos esquecer que São Jorge paira e influencia muitos momentos de nossa cultura. Um desses momentos e manifestações são as cavalhadas. Baseados nos preceitos de Jorge, as folclóricas cavalhadas que acontecem em várias regiões de nosso país encenam o duelo do bem contra o mal inspiradas no Santo Guerreiro, quando metade dos cavaleiros representa o mal com a cor vermelha e a outra metade a cor azul representando o bem, ou seja, o nosso valente Jorge.
Fato é que Jorge da Capadócia, em sua caminhada de lutas e ao vencer demandas, tornou-se São Jorge na Igreja Católica. Encaminhou-se para várias partes do mundo e com os portugueses chegou ao Brasil como santo. E no rufar dos runs, rumpis e lês, escondidos ao fundo de cada senzala o negro cantou, louvou e o venerado santo sincretizou fazendo dele Ogum. E Salve Jorge da Capadócia!
Hoje, na Sapucaí, tem alvorada ao ritmo do samba. Numa procissão carnavalesca, a Unidos de Bangu te rende todas as homenagens e pede proteção para todos que acreditam ou mesmo não acreditam! Com a fé e garra de Jorge, de joelhos, suplicamos o título.
Salve, Jorge da Capadócia! Salve, São Jorge!
Salve, Ogum! Ògún yè, pàtàkòrí!
Texto e pesquisa: Amarildo de Mello
Carnavalesco: Robson Goulart
-Assessoria de Imprensa Gres Unidos de Bangu-
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