O “Encontro do Samba”, promovido pela prefeitura do Rio através da Riotur, e que vai movimentar a orla de Copacabana neste sábado, não contará com a participação do mais consagrado intérprete do Carnaval carioca: Neguinho da Beija-Flor. O artista que há 42 anos brilha nos desfiles da Passarela do Samba carioca com a azul e branco de Nilópolis diz que nunca teve seu valor como artista reconhecido pela Riotur e por isso não participará do evento.
– Tenho uma carreira não só no Carnaval. São 35 CDs gravados, vários sucessos, e nunca fui chamado pra cantar na areia de Copacabana. Nesses anos todos, a Riotur me ignora completamente como artista. Sempre que aquele palco é montado na praia penso nisso. Chamam todo tipo de artista pra se apresentar, de todos os gêneros musicais, e eu nunca sou lembrado. A festa acontece a poucos metros da minha casa, e nunca pude cantar lá. Acho uma falta de respeito – desabafa o cantor.
Neguinho ressalta que o tratamento indiferente da empresa de Turismo do Rio de Janeiro não é só em relação a ele, mas a outros sambistas que atuam como intérpretes de escolas.
– No réveillon, as escolas são chamadas, sobem no palco, mas nunca são protagonistas. Parece prêmio de consolação. O Jamelão, o maior intérprete de todos os tempos, tinha uma carreira brilhante fora do Carnaval, e morreu sem nunca ter feito um show com os sucessos dele na areia de Copacabana. Assim como ele, outros também mereciam estar lá, ganhando cachê. Eu acho que tem preconceito com cantor de escola de samba. Quem organiza esses eventos deve achar que intérprete de escola de samba é menos artista que os outros. Alguns nomes que nem têm sucessos e carreiras consagradas são chamados. Nós, não. Muitos cantores de escolas pensam como eu, mas ninguém fala. Então, tô falando. Tenho agenda livre amanhã, mas não vou à Atlântica. Se não sirvo pra cantar no palco, também não vou servir pra ir lá fazer número – frisa.
Neguinho ressalta ainda que, há décadas, durante o ano todo, faz shows em várias cidades do Brasil e do mundo, divulgando o Carnaval mais famoso do planeta.
– Graças a Deus, tenho a agenda cheia. Em 2017, estive três vezes na Europa, cantando meus sucessos. Viajo o Brasil inteiro e meu trabalho é muito valorizado pelo público e até pelos governantes locais. No Rio de Janeiro, não. Depois do Desfiles das Campeãs deste ano, vou fazer uma turnê por 10 cidades dos Estados Unidos. Quando voltar, ficarei aqui por alguns dias e viajo pra fazer show na Europa. E lá fora, eu garanto, ninguém nunca ouviu falar em Riotur e nem no Crivella. Mas do Neguinho da Beija-Flor, sim – alfineta.
Embora considere o evento deste sábado importante para divulgar o samba – com a cidade já repleta de turistas -, o cantor e compositor acha que a prefeitura não está tratando as escolas como elas merecem.
– Na hora fazer festa na Avenida Atlântica, esse ‘Encontro do Samba’, eles lembram das escolas. Mas pro desfile cortaram a verba pela metade, atrasaram os preparativos do espetáculo, deixaram centenas de profissionais sem trabalho, porque as escolas foram pegas de surpresa com o corte e tiveram que reduzir o pessoal. E as escolas da Série A e as que desfilam na Intendente Magalhães, que não receberam nada até agora? Por essas e por outras, é que tô fora – conclui Neguinho, que, com sua voz inconfundível, é responsável por alguns sucessos, como “Ângela”, “Malandro é malandro mané é mané”, “O campeão” e “A deusa da passarela”.