Na última quinta (16), o Acadêmicos do Engenho da Rainha divulgou a sinopse do seu enredo “Ijexá” para o Carnaval 2025.
A primeira academia do samba exaltará a história de Ijexá, o toque de Oxum, oriundo da cidade de Ilexá, no estado de Osun na Nigéria e foi levado para a Bahia pelos iorubás escravizados neste estado do final do século XVII até a metade do século XIX.
Presidente: Paulo Henrique Machado
Carnavalesco: Matheus Rodrigues
Pesquisa e Texto: Matheus Rodrigues
Enredo: Ijexá
Sinopse
Citação
Filhas de Gandhi, Ê povo grande, Ojuladê, Catendê, Babaobá, Netos de Gandhi, Povo de Zambi, Traz pra você um novo som: Ijexá.
Ijexá – Edil Pacheco – Intérprete: Clara nunes
01 – A Raíz
“É fibô, é fibô do wa iyá Oxum ” – (É aquela que nos protege, Ela quem nos cobre, no rio é a mãe Osun, ela quem nos cobre)
África, Nigéria, estado de Osun
Pelas terras sagradas de Ijebu Odé, Osogbó e Ilesá
Cortam-se o mais belo rio, fonte das águas doces da rainha de Ijexá “Osun” Da lama barrenta do Rio Osún surgem bolhas até sua superfície
A mansa água que desliza seguindo seu percurso começa a se agitar
Ali, próximo a uma cachoeira surge a imagem de uma bela mulher.
Negra, cabelos ondulados, charmosa, pele brilhante e reluzente
Com seu vestido amarelo ela sai das águas e se senta em uma pedra
Seu rosto é escondido por tiras de pérolas que caem de sua tiara dourada. Em uma mão carrega um abebé amarelo refletindo sua beleza, na outra um alfange.
Ela reverencia os 04 elementos criados por Oduduá: Água, terra, fogo e ar! Lá do alto da cascata ela observa seus filhos da nação Ijesá, nascidos do pó da terra tocando Ijexá e a cultuando ” Ìyá Dò Sìn Máa Ge ÌYà Wa Oro ” (A mãe do rio nos protegerá e nos guiará) com seus fios de conta ao peito, atabaques afinados e balaio na cabeça.
Seu toque, adentra pelas matas verdes ecoando pelo Bosque Sagrado dos Orixás, ela inicia sua dança encantadora e seduzente pelas encostas de areia que rodeiam suas águas junto ao canto dos pássaros ao seu redor. Pétalas de rosas vermelhas estão postas próximas a algumas pedras, ela se lembra de seus primeiros passos de Ijexá pelo castelo do rei de Oyó.
Ora yê yê ô, Oxum!
Ora yê yê ô, minha mãe!
02 – O Sagrado
A luz da lua refletia as águas densas e geladas do temido Atlântico misturadas em lágrimas de sal derramadas durante o balançar das ondas com o tenebroso assovio dos ventos que percorria a travessia da Calunga Grande, onde a rainha do mar acolhia seus filhos para uma nova caminhada, uma nova vida onde os olhos humanos não enxergam, lugar esse onde não existe dor e muito menos chibatadas.
Salvador, a terra do sol!
O sangue real, agora escravo, aporta em uma nova terra com a missão de reconstruir uma nação marcada por um saqueamento de cultura, paz e dignidade. Aqui, superar é a ordem e a fé a fonte para se reerguer!
Nos salões de chão batido, Gameleira-Branca ao centro
Atabaques run, o pi, o lé junto a agogôs e xequerês renasce o Ijexá Um toque suave, sereno, limpo, brando e simples. Saudações, reverências, canto forte, passos suaves, bater cabeça para orixá.
É o sentimento de paz e esperança voltam a se firmar.
É o nosso poder, nossa fé em um novo solo Ilê Axé Iyá Nassô Oká.
Nosso amado sagrado!
03 – O Corpo
É dia de ganhar as ruas
O sol quente ilumina as ruas de pedra para a herança passar
O toque de Ijexá ecoa, iniciando os primeiros registros de resistência negra da capital.
Cortejos vestem o branco de Oxalá reverenciando senhoras e senhores da mística fé sagrada e profana.
É Água de cheiro, fios de contas, banhos de ervas, fitas coloridas, saias rodadas, turbantes, colares, figa de guiné, pétalas de rosas, alakas, buquês, barquinhos azuis e brancos, adjas, atabaques, vassouras de palha, altares barrocos e devotos.
Corpos estão dançando, gingando, girando e cantando O suor escorre pelas peles negras, brancas e indígenas. São Reis e rainha, escravos e yabás, damas do paço e calungas, porta-estandarte e batuqueiros em referência a rainha Matamba. Príncipes e filgados, vassalos e conguinhos, embaixadores, secretários e guerreiros.
Em frente à Colina Sagrada tocam-se Agbês, atabaques, agogôs, lá estão os corpos reunidos para o desfile de uma nova manifestação negra, Os Afoxés! A Herança dos Afoxés Embaixada da África, Afoxé Pândegos da África renascem em Filhos de Gandhy, Olorum Baba Mi, Onira, Preto Velho, Acará.
Ao som de apitos, surdos, tamborins, caixas, agogôs, atabaques se esquentam para o primeiro desfile do Carnaval da Bahia. Confetes, serpentinas, fantasias, alegorias e máscaras conquistam a cidade e realizam sonhos onde tudo se acaba em uma quarta-feira de cinzas.
Lá no Curuzu nasce Ilê Aiyê ao toque de Ijexá dando voz às comunidades e expandindo a cultura africana no Brasil. Ventos a frente arrastando multidões ressurgem Filhos do Congo, nasce Olodum, Malê Debalê, Os Negões e a Mulherada.
04 – A Eternidade
Através das notas musicais, Ijexá ganha um novo corpo.
Em pedaços de folhas velhas surge a primeira nota.
Pelas mãos de um negro de Salvador, descobridor da pequena notável, Josué de barros. “Babaô Miloquê” se incorpora à musicalidade brasileira. “Santo vai baixá pra nós vê. O acaçá acarajé. Ô santo do candomblé”.
Caymmi com devoção a cultura popular se apaixona ao assistir os cortejos afros no Pelourinho e a expressão negra em suas danças nas ruas, lá surge ” Afoxé leí Le Í ilê ô, O negro está tremendo sem querê, o negro na batida do agogô “.
Gil, em homenagem a seu santo de Cabeça “Xangô”, um dos amores da deusa de Ijexá “Oxum” compôs “Oju Obá”, “Salvador vai se acender, sua estrela vai brilhar, meu olhar resplandecer, reluzente Ojú Obá, ilumine o meu viver”.
Lá no Clube do Samba, a tal mineira Clara Nunes se apaixona por “Ijexá” de Edir Pacheco. A partir dali o eterniza em sua voz ” Seu brilho parece o sol derramado, um céu prateado, um mar de estrelas. Revela a leveza de um povo sofrido de rara beleza que vive cantando, profunda grandeza”
Seguindo seu amor a “Ijexá” nasce “Afoxé para Logun” em homenagem ao Príncipe dos Orixás, de Ijexá, filho de Oxum e Oxóssi, Logun-edé! “Coroa reluzente, Todo ouro sobre azul, Menino onipotente, Meio Oxóssi, Meio Oxum. Eh…, quem é que ele é?, Ah…, onde é que ele está? Axé, menino, axé!, Fara Logun, Fara Logun, Fá!”.
Através da voz da Abelha rainha, “Yorubahia” nasce como uma demonstração de amor aos festejos e as lembranças da infância. “Ruas por onde andei, Cantando encantei, Encanto a cantar, Menina me ninei, Sonhos que sonhei, Castelos no ar, Sons dos maculelês, É tudo que sei, De tudo que há”.
Brown, O Cacique do Candeal escreve “Muito Obrigado, Axé!” onde embarcamos em ligações do mundo espiritual e terrestre, exaltando os orixás e sua conexão com a identidade brasileira. “Isso é pra te levar no meu terreiro, pra te levar no Candomblé, pra te levar no altar”.
É d’Oxum, a música eternizada! Foram vozes que deram vida ao encanto de Ijexá e a canção da mais bela das Yabás, Oxum!
Através de sua letra sentimos a paz, a segurança, o amor, o cuidado, a leveza, a ternura e o colo materno da rainha de Ijexá. “Nessa cidade todo mundo é d’Oxum, Homem, menino, menina, mulher, Toda essa gente irradia magia, Presente na água doce, Presente na água salgada e toda cidade brilha”
-Fernanda Soares e Michele Santos-
Assessoria de Imprensa Gres Acadêmicos do Engenho da Rainha
Foto de Capa: Divulgação
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