A sexta edição do CURA – Circuito Urbano de Arte tem programação intensa. Enquanto a pintura das empenas dos artistas Ed-Mun (MG) e Kassia Rare Karaja Hunikuin com o Coletivo Mahku (Acre) segue em ritmo acelerado, o festival já anuncia novas atividades.
Esta semana, Sadith Silvano e Ronin Koshi, artistas do povo Shipibo (Peru) desembarcam pela primeira vez em BH, onde pintam o chão da icônica Av Amazonas no entorno da praça Raul Soares, a partir do dia 29 de outubro. Os Shipibo-Konibo são uma etnia que vive às margens do rio Ucayali, nome que o rio Amazonas recebe na floresta peruana. Por aqui, Sadith e Ronin fazem sua pintura-ritual evocando suas raízes, sua língua, costumes e conhecimentos de cura.
Uma marca forte da identidade shipiba são os kenés (já declarados como patrimônio cultural do Peru), o bordado mítico de padrões geométricos e labirínticos, inspirado pela cultura do chá de Ayahuasca. Nas cerimônias de beberagem desta receita milenar, preparada com o cozimento de plantas amazônicas, os xamãs Shipibo entoam seus ícaros, canções medicinais e curativas, e visualizam em suas mentes as formas e os desenhos que, depois, serão bordados em tecidos, ponto a ponto.
Os Shipibo são artistas ancestrais, suas técnicas e rituais são passados de geração em geração, articulando o conhecimento da biodiversidade, das artes, das práticas e plantas com poder de cura. “Com muita alegria e satisfação difundimos nossa cultura, através dos murais que criamos. Nos murais estampamos o conhecimento de nossos ancestrais, desenhos com padrões geométricos de energia, desenhos que falam da constelação do universo, plantas medicinais, o poder de nossos animais como guardiões de nossa selva”, diz Ronin Koshi, também ativista e líder indígena.
Pela primeira vez no CURA, uma obra será pintada ininterruptamente, 24h por dia. Para tanto, foram escaladas equipes que se revezarão na tarefa.
Vivência
A partir do dia 30/10 até 02/11, o CURA21 propõe uma vivência na praça de presença marajoara, em que o chão é entendido como sagrado, território dos mortos, da comunidade, de onde sai o alimento, de onde sai a cura, por onde correm os rios. E, exatamente por reconhecer nesse território sua conexão com o Arquipélago do Marajó — NA foz do maior rio do mundo, para onde desaguam os rios que compõem a região amazônica —, ela será carregada de simbologia do encontro das águas e dos processos de cura dos rios, que têm sido atacados, poluídos e mortos, seja no encontro do Rio Arari, na grande bacia do Marajó, sejam nos rios da bacia do Rio Doce.
A vivência será guiada pela cozinheira, artista e pensadora indígena Tainá Marajoara, numa criação coletiva com outras três mulheres: Mayô Pataxó, Patrícia Brito e Silvia Herval. Um encontro que será, ao mesmo tempo, fruto de um processo artístico e de intenções, ENCANTARIAS e espiritualidade. Na sua centralidade estarão 4 alimentos-chave (farinha de mandioca, tucumã, pimentas e beijus) que são um pouco do gosto da floresta e alimentos que nutrem o corpo e o coração. Alimentos identitários, territoriais, que têm valor ancestral, como o tucumã, do qual se aproveita tudo (raiz, óleos, polpa, sementes…), garantindo a soberania alimentar de muitos povos indígenas.
Durante a vivência guiada, haverá um espalhar de sementes nas pedras portuguesas. “A gente quer atuar num processo de contracolonização, florescer no chão (ainda que simbolicamente) jenipapo, tucumã, urucum… entendendo que a pedra da colonização precisa sair do nosso caminho e, com ele, este sistema de pisotear, de cimentar nossa memória, nossa história, nossa identidade. Será um gesto simbólico com poesia-criação-inspiração, que é base de construção dessa vivência, um gesto de replantar para que o território floresça entre as pedras portuguesas, da colonização, que insistem em ser atiradas sobre nós”, diz Tainá Marajoara.
Tainá Marajoara (Belém/PA): cozinheira, de ancestralidade do povo originário Aruãn marajoara, que atua na conservação e na salvaguarda das culturas alimentares originárias da Amazônia, expressão da identidade e saber ancestral e popular desses povos e comunidades, buscando outras possibilidades epistemológicas e artísticas a partir das cosmovisões, encantarias, lutas e conhecimento tradicional.
Mayô Pataxó (Ubaporanga/MG): mulher indígena, pedagoga e pós-graduada em Educação do Campo; ministra cursos e oficinas de agroecologia, oficinas de benzeção e comidas tradicionais, realiza trabalhos de sensibilização pelo alimento, de cura pelas comidas.
Patrícia Brito (BH/MG): mulher preta, cozinheira, pesquisadora no campo da memória alimentar e do patrimônio material e imaterial; realiza projetos culturais relacionados aos afrodescendentes e aos povos originários.
Silvia Herval (BH/MG): cozinheira e arquiteta de formação; produz festas, comidas, mobiliários e hortas, e vive pensando em como a comida nos conecta pelo tempo e pelo espaço, de geração em geração. Integra o coletivo do Espaço Comum Luiz Estrela que ocupa e restaura o casarão tombado no bairro Santa Efigênia e, lá, vem desenvolvendo há quase 8 anos ações e práticas culinárias, artísticas e de autogestão.
Tainá Marajoara conduz Vivência e artistas indígenas do Peru pintam o chão do entorno da Praça Raul Soares no centro de Belo Horizonte
Programação:
21 de outubro a 02 de novembro:
Pintura de Empena
Artista Ed-Mun (MG)
Edifício Paula Ferreira – Praça Raul Soares, 265
21 de outubro a 02 de novembro:
Pintura de Empena
Artistas Kassia Rare Karaja Hunikuin com Coletivo Mahku – Movimento dos artistas Huni Kuin (AC)
Edifício Levy – Av. Amazonas, 718
29 de outubro a 01 de novembro:
Pintura-ritual – Chão da Av. Amazonas, ao redor da Praça Raul Soares
Sadith Silvano e Ronin Koshi, artistas Shipibo ( Peru)
30 de outubro a 02 de novembro:
Vivência
guiada por Tainá Marajoara (PA), com Patrícia Brito (MG), Silvia Herval (MG) e Mayô Pataxó (MG)
Sobre o CURA21 – 6ª edição
Todo ano o CURA se permite escutar, aprender, propor, se transformar. Em 2021, ele se apresenta expandido — na sua duração, nos modos de conviver na cidade, de experimentar encontros na rua. Um Cura contínuo, sem ponto final.
Uma decisão que se reflete já na escolha por uma curadoria que se aprofunda em um Brasil que não é somente urbano e sudestino. Naine Terena de Jesus, pesquisadora, mestre em arte e mulher indígena do povo Terena, e Flaviana Lasan, artista visual e educadora, com pesquisa sobre a presença da mulher na história da arte, somam seus olhares e vivências com as das idealizadoras Janaína Macruz, Juliana Flores e Priscila Amoni para conceber um festival-ritual, que abre os ouvidos e desperta os sentidos para os saberes, as tecnologias e os modos de fazer artístico dos povos tradicionais.
Sobre o Cura
O Circuito Urbano de Arte realizou sua quinta edição em 2020, completando 18 obras de arte em fachadas e empenas, sendo 14 na região do hipercentro da capital mineira e quatro na região da Lagoinha, formando, assim, a maior coleção de arte mural em grande escala já feita por um único festival brasileiro.
Idealizado por Janaina Macruz, Juliana Flores e Prisicila Amoni, o CURA também presenteou BH com o primeiro e, até então único, Mirante de Arte Urbana do mundo. Todas as pinturas podem ser contempladas da Rua Sapucaí.
Serviço
CURA – Circuito Urbano de Arte, 6ª edição
Início: 21 de outubro de 2021
Local: Praça Raul Soares
https://www.instagram.com/cura.art
PATROCÍNIO MASTER:
Becks ( Lei Estadual de Incentivo à Cultura)
PATROCÍNIO:
Cemig – Governo de Minas
Localiza
Lei Municipal de Incentivo à Cultura
APOIO:
Coral
Planalto Tintas
APOIO INSTITUCIONAL
Belotur e Prefeitura de Belo Horizonte
REALIZAÇÃO:
Pública Agência de Arte
-Renata Alves Comunicação-
Silvia Herval – Fotos de Capa: Arquivo Pessoal
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