Histórico palco do Rio de Janeiro e um dos mais importantes do Brasil, o Teatro Casagrande acaba de ganhar uma nova parceira em sua jornada de resistência: a PetroRio. Maior produtora independente de petróleo do país, a companhia irá patrocinar o espaço nos próximos doze meses, reafirmando a sua política de preservação de memória e fomento à cultura brasileira. O contrato para o projeto, batizado “Manutenção”, prevê o aporte de R$ 1,5 milhão e será executado por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura
– A PetroRio anseia em apoiar de forma incondicional a cultura brasileira. Cremos nas manifestações artísticas e nos espaços destinados às artes como vetores de desenvolvimento humano e social. O Rio é uma referência internacional na música, no cinema, no teatro, na teledramaturgia e também na literatura e nas artes plásticas. Estamos atentos às demandas do setor, sobretudo neste momento de retomada. É hora de concentrarmos esforços a fim de resgatar o protagonismo da cidade no setor, aqui no Brasil e no mundo, destaca a direção da PetroRio.
Essa é a segunda vez que a empresa firma parceria com um teatro no Rio. Em dezembro de 2018, o Teatro das Artes, no Shopping da Gávea, cedeu o naming rights ao grupo e passou a se chamar Teatro PetroRio das Artes. A inauguração foi comandada por Fernanda Montenegro com a apresentação do monólogo “Nelson Rodrigues por ele mesmo”. Com curadoria de programação de Tatiana Trinxet, a PetroRio investiu R$ 2 milhões no espaço ao longo de dois anos. Para o Casagrande, a companhia permanecerá se pautando pela filosofia de facilitação e democratização do acesso à cultura, com um repertório variado de atrações que passa por shows, espetáculos teatrais, palestras, além de projetos voltados para o público infantojuvenil.
– Estamos elaborando as pautas conjuntamente com a direção do teatro. Mas há consenso de que a pluralidade continue dando o tom da programação da casa, diz Tatiana.
No momento em que o mercado denota retração nos investimentos em cultura, a PetroRio caminha justamente na direção oposta, assinalando o seu comprometimento com a arte e a sua preocupação com a cadeia produtiva do setor. Particularmente, apresenta-se sensível à crise neste 2021, declarado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o Ano Internacional da Economia Criativa para o Desenvolvimento Sustentável. A Cultura está inserida em 11 dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável preconizados pela ONU. Trata-se, portanto, de um tema de extrema relevância para se refletir e debater neste longo período de pandemia.
– É imprescindível compreendermos que o capital simbólico da cultura e o capital intelectual podem ser valorados. Arte e economia, embora sugiram dissonância, andam juntas. Arte gera empregos e movimenta a economia de cidades, de estados e de um país. Como o esporte, que também apoiamos, é um importante instrumento de inclusão de jovens em situação de vulnerabilidade social. É isso o que nos move e interessa”, ressalta a companhia.
Casagrande tem história de luta e resistência
Inaugurado em 1966 com o nome de Café Concerto, o Teatro Casagrande é o maior da zona Sul do Rio de Janeiro. Seu palco abrigou montagens antológicas e marcantes na história do teatro brasileiro, bem como atos e encontros que figuram nos anais da política nacional. Pelo Casagrande passaram, em 1970, Maria Bethânia e Ítalo Rossi com “Brasileiro, profissão esperança”, primeira montagem do musical escrito por Paulo Pontes sob a direção de Bibi Ferreira. Foi lá também que, em meados da década de 1980, Marco Nanini e Ney Latorraca estrearam “O mistério de Irma Vap”, espetáculo com o qual os atores rodaram o Brasil ao longo de 11 anos, entrando para o Guiness Book como a peça que por mais tempo ficou em cartaz no país.
O Teatro Casagrande tem importância singular na história política brasileira, o que viria a transformá-lo em um espaço para além do entretenimento. Um sem número de debates reunindo a intelectualidade e lideranças sindicais, como o então metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva, converteria o local numa espécie de palco pró-redemocratização do Brasil. No Casagrande surgiu o Comitê Brasileiro da Anistia e foi onde artistas e intelectuais pressionaram o ministro da Justiça do governo José Sarney, Fernando Lyra, a decretar simbolicamente o fim da censura na chamada Nova República. Tombado como bem imaterial pelo Estado e pelo Município em função dos atos que promoveu contra a ditadura, o teatro foi declarado pela classe política progressista como Território Livre da Democracia.
Em 2019, o Teatro Casagrande esteve em meio a uma polêmica ao ser lançado em um edital de licitação pelo governo do Estado do Rio, que previa a sua ocupação independentemente da natureza das atividades que poderia passar a abrigar. O documento também determinava que a programação do espaço deveria ser submetida à avaliação da Sectetária de Cultura do Estado. Artistas, produtores, jornalistas e empresários lançaram um manifesto de repúdio à proposta, destacando que o Casagrande, embora ocupe um terreno público do estado, jamais recebera verba pública para a sua manutenção. O espaço sempre contou com a iniciativa privada para o seu funcionamento. Atendendo medida cautelar impetrada pela direção do teatro, o Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro suspendeu a licitação.
Sensível à crise que acomete a Cultura, maior produtora independente de petróleo do Brasil sela contrato com uma das mais importantes e tradicionais casas de espetáculo do Rio de Janeiro
-SG Assessoria de Imprensa-
Teatro Casagrande – Foto de Capa: Divulgação
@ Portal AL 2.0.2.1