Ao longo do último ano, não foram poucas as vezes que Drik Barbosa se pegou repetindo a frase “calma, respira” como se fosse um mantra e, com certeza, ela não foi a única. Para encontrar um equilíbrio, a rapper, cantora e compositora paulistana recorreu aos saberes ancestrais e encontrou na música uma ferramenta de resistência, de preservação da identidade de um povo e de amenização das dores. Foi assim que surgiu o projeto NÓS, uma iniciativa multiplataforma que vem sendo produzida por Drik Barbosa e pela LAB Fantasma desde novembro de 2020; e já lista os singles “Sobre Nós” e “Seu Abraço”, em parceria com Rashid e Psirico, respectivamente. Agora, a artista apresenta um novo capítulo em sua jornada de cura e de autocuidado. Trata-se de “Calma, respira”, um pagode que conta com a participação de Péricles. A faixa chega aos aplicativos de streaming pela Laboratório Fantasma (ouça aqui) e também ganhou um videoclipe, já disponível no canal de YouTube da artista (assista aqui).
“Desde que iniciei o projeto NÓS, abordei o resgate da nossa humanidade e também exaltei a importância do afeto em nossas vidas. Agora, com ‘Calma, respira’, trago uma mensagem de empatia e de resistência”, comenta Drik. “Principalmente quando pensamos na população negra, o sentimento de solidão é muito forte e isso está diretamente ligado ao genocídio e ao extermínio que nós e as populações indígenas enfrentamos no Brasil desde a colonização. Essa canção vem para reafirmar que somos maiores, que vamos resistir e que não estamos e nunca estivemos sozinhos. Nossos antepassados nos ensinaram isso; o samba, o pagode e o rap me trouxeram esse entendimento e me deram auto-estima, força, esperança e reconhecimento da minha negritude”, avalia a artista.
A escolha do pagode como guia para “Calma, respira” não foi à toa, visto que – nos anos 90, quando se popularizou – ele foi responsável por resgatar a auto-estima da população afro-brasileira, em especial da juventude negra e periférica. “Em um momento social demarcado pela vigência do ‘mito da democracia racial’, o pagode ficou conhecido apenas por suas contribuições com canções românticas, o que é uma consequência direta da tentativa do embranquecimento do gênero, que, para além de temas românticos, também falava sobre religiosidade negra, espiritualidade, orgulho e exaltação da sua cultura”, comenta Evandro Fióti, empresário de Drik Barbosa e parceiro dela na composição de “Calma, respira” (ao lado de Kelly Souza – irmã e backing vocal de Drik). “Devido ao racismo estrutural e suas consequências, presentes na sociedade até os dias de hoje, as músicas com esse tipo de conteúdo não tinham o interesse das gravadoras e da mídia hegemônica (salvo raras exceções). Ainda assim, o pagode – tal qual o jazz, blues e o soul nos Estados Unidos – resistiu e dominou as paradas de sucesso dos anos 90 e 2000. E foi responsável por trazer auto-estima, identidade e influenciar diretamente as próximas gerações, como a de Drik Barbosa. Daí, a importância desse lançamento no contexto em que vivemos”, complementa Fióti. Ele ainda reafirma a importância da cultura negra como elemento fundamental de resistência, já que “a morte das pessoas negras, por conta do genocídio, não é apenas física, mas também simbólica devido ao apagamento, embranquecimento e esvaziamento da sua cultura, o que podemos chamar de epistemicídio”.
Com produção musical de Damien Seth e Fejuca, “Calma, respira” faz um resgate cultural por meio de uma sonoridade capaz de mexer com o imaginário positivo da maioria da população negra brasileira – algo possibilitado pelo poder do pagode e reforçado pela participação de Péricles. Além de ser um dos principais cantores do país, ele é dono de uma voz capaz de transportar todo brasileiro para um local espiritual, nostálgico e afetivo. “Eu tinha muita vontade de trazer aquela emoção que o pagode dos anos 90 carregava em suas construções. Eu sou muito fã do Péricles, fiquei muito feliz quando ele aceitou o convite para participar. A sua voz tem uma magia inexplicável, a interpretação dele levou a mensagem da música para algo muito profundo. Hoje, penso que ele era a única pessoa possível para o resultado que eu queria”, diz a rapper.
Drik e Péricles também aparecem juntos no videoclipe curta-metragem de “Calma, respira”. Há ainda a presença do ator Majó Sesan e de Mirella Barbosa (irmã mais nova de Drik). Responsável por ampliar ainda mais a dimensão espiritual e a importância da música como uma tecnologia ancestral para as pessoas negras, o registro audiovisual é uma parceria da Laboratório Fantasma com a ODUN Filmes, produtora de Vivi Ferreira, mulher negra, diretora e roteirista do clipe e atual presidente da SPCine. O curta apresenta a figura paterna negra interpretada por Majó Sesan em busca das sabedorias dos antepassados para tirar a sua filha de um estado de depressão. A música surge como protagonista e elemento fundamental para a cura e o resgate da humanidade.
“Tem uma fala contundente de Ma Rainey, mulher negra e também mãe do Blues, que aparece no filme ‘A Voz suprema do Blues’ e representa muito bem o que queremos passar com ‘Calma, respira'”, afirma Fióti. “Ela diz: ‘Os brancos não entendem o blues. Eles o ouvem, mas não sabem de onde vem. Não sabem que é a vida falando. Você não canta pra se sentir melhor. Canta porque é um modo de entender a vida. O blues o ajuda a levantar da cama pela manhã. Você levanta sabendo que não está só’. Esse é o poder da música para nós, pessoas negras, antes de ser ‘’Produto’’ nosso legado ancestral, tecnologia de resistência.”, ele adiciona.
Após “Calma, respira”, Drik Barbosa iniciará o processo do último capítulo do projeto NÓS, em que apresentará mais uma canção e o lançamento de um podcast. “Eu gosto de pensar que cada faixa do projeto NÓS está dando a mão para outra. Quando completarmos o ciclo de quatro singles, será como se eles estivessem abraçando o público. A arte cura e esse é o poder que eu quero usar para levar esperança e afeto para o nosso povo”, finaliza Drik Barbosa.
Assista ao videoclipe de “Calma, respira”
Ficha técnica da música:
Artistas: Drik Barbosa e Péricles
Composição: Drik Barbosa, Fióti e Kelly Souza
Produção musical: Damien Seth e Fejuca
Arranjo: Fejuca
Violão, baixo, cavaquinho e banjo: Fejuca
Percussão: Dennys Silva
Bateria: Jacques Monastier
Teclado: Renato Xexéu
Samples: Damien Seth
Mixagem: Damien Seth
Masterização: Maurício Gargel
Gravadora: Laboratório Fantasma
Direção artística: Evandro Fióti
Produção executiva: Raissa Fumagalli
Assistente de produção executiva: Laura Freitas
Voz Drik Barbosa e Péricles gravadas por Tofu Valsechi em Lab Estúdio, São Paulo
-Trovoa Comunicação-
Drik Barbosa e Péricles – Foto de Capa: Lana Pinho
Portal AL 2.0.21